Vaca Gir: caraterísticas, vantagens, e dicas para novos produtores

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Com o avanço do aumento populacional no mundo observado nos últimos tempos, notou-se uma crescente demanda pelo consumo de alimentos principalmente os de origem animal. Alinhado a isso, a busca por uma criação moderna e competitiva na pecuária bovina tem crescido nos dias atuais e algumas particularidades observadas em práticas de produções sustentáveis são cada vez mais exigidas pelo consumidor e por empresas do setor alimentício, formando-se um elo satisfatório entre produção e consumo que gera rentabilidade e ganhos econômicos para o pecuarista. Todavia, torna-se necessário ao produtor adquirir conhecimento através de ajuda profissional sobre os cruzamentos entre raças que melhor atendem ao seu método de criação e as condições da sua propriedade. De forma análoga, os cruzamentos realizados entre bovinos de diferentes raças é uma maneira eficiente para realizar um melhoramento genético ideal, com o intuito de desenvolver um animal com características indispensáveis para a sua produção.

Com o crescimento do mercado do sêmen, a raça zebuína Gir tem se tornado líder no segmento, principalmente para os cruzamentos onde a finalidade é obter bons exemplares para produção leiteira. Contudo, torna-se possível observar o aproveitamento da raça pela sua característica rústica, afim de obter excelentes mestiços no cruzamento entre o gado Holandês desenvolvendo a raça Girolando, uma excelente alternativa para o pecuarista que deseja competir entre os melhores criadores da pecuária leiteira do país.

Origem e história da raça

De origem indiana, a presença da raça foi descrita em regiões de Rayputana, Baroda e nas montanhas de Gir localizadas ao sul de Katiawar.

Dentro do contexto histórico brasileiro, durante o período de ascensão das raças zebuínas no Brasil durante o século XIX e início do século XX a raça Gir foi inserida em territórios nacionais, principalmente pela sua aptidão leiteira e também para o consumo de carne. Todavia, com o aumento significativo da população no país, foi crescente a demanda por proteína animal, leite e seus derivados. Com o objetivo de aprimorar os desempenhos produtivos do rebanho nacional, a raça tem se tornado muito difundida entre cruzamentos devido suas características de rusticidade e adaptação em regiões que apresentam altas temperaturas, sendo assim, tornam-se ótimos animais para produção no norte e nordeste brasileiro.

Contudo, após a primeira guerra mundial durante o período de crise, houve um crescimento na exportação de carne bovina e isso foi propício para a consolidação de raças zebuínas no Brasil. No entanto, alguns criadores perceberam a necessidade de inserir raças mais produtivas visando a competição no mercado passando a importar a raça Gir, que foram utilizados primeiramente no cruzamento com a raça Guzerá, em 1928.

Em 1950, pequenos criadores de leite do país começaram a utilizar o Gir para melhoramento de suas vacas e durante esse período foram selecionadas as linhagens de leite e de corte. Portanto, com o passar dos anos a raça ocupou cada vez mais espaço nas pequenas e médias propriedades de leite, sendo possível alcançar nos anos 2000, a produção de 14.000 kg de leite ao ano. Atualmente a criação e existência de centros de pesquisa para estudos, melhoramento da raça e sua expansão são cada vez mais crescentes no país.

Características da raça

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  • Porte médio a grande, corpo amplo e comprido. As fêmeas adultas podem pesar de 400 a 650 kg e os machos entre 750 a 950 kg.

  • Apresentam cabeça de tamanho médio, fina e seca, com fronte larga, perfil ultra-convexilíneo e marrafa jogada para trás;

  • Chanfro reto, estreito e delicado. Nas fêmeas, a região que compreende a linha dos olhos até o focinho se apresenta de forma mais comprida e estreita em consideração ao macho;

  • Focinho preto e largo com narinas dilatadas;

  • Lábios grossos e firmes e boca grande;

  • Olhos com formato elíptico. Cílios e olhos de cor escura;

  • Orelhas compridas e pendentes, apresentando um padrão bem característico para a raça;

  • Chifres escuros, simétricos e grossos na base e saem próximo a linha dos olhos;

  • A pelagem padrão da raça pode apresentar até 12 cores que variam em tons avermelhados e amarelo, do vermelho chitado ao rosilho claro. Na índia ainda existe o Gir de cor negra;

  • Apresentam boa capacidade cardiorrespiratório tendo em vista a característica de um tórax amplo e profundo, costelas largas e longas.

A raça Gir é considera de dupla aptidão e sua genética está atualmente distribuída do sul ao nordeste do Brasil. É evidente que com o passar dos anos e com a inserção do melhoramento genético e pesquisas a respeito da raça, foi possível selecionar os melhores animais que apresentam a aptidão leiteira, embora a raça tenha sido introduzida no país também para produção de carne.

Apresentam temperamento dócil, de fácil manejo podendo as vacas serem ordenhadas tanto manualmente quanto por meio da ordenha mecânica. São bovinos com boa conformação anatômica em geral. Nesse sentido, possuem boa conversão alimentar, com ótimos índices produtivos à pasto. Podem ser resistentes a ectoparasitas e endoparasitas, contudo, torna-se importante manter o manejo sanitário na propriedade em dia, para prevenir doenças e infestações.

Comportamento reprodutivo das vacas Gir

Quando os bovinos atingem a puberdade, inicia-se a atividade reprodutiva até chegarem a maturidade sexual. Quanto mais precoce for o início da atividade sexual, mais breve é o retorno econômico das fêmeas em recria e produção. Nas fêmeas, essa fase é marcada pela idade ao primeiro estro e idade à primeira ovulação. Segundo o National Research Concil, o início da puberdade das novilhas acontece quando as mesmas atingem de 60 a 65% do seu peso adulto. O primeiro cio pode ocorrer dos 15 aos 18 meses de idades, aproximadamente e a primeira cria, normalmente ocorre aos 43 meses de idade.

Em touros, observa-se o início da puberdade entre 25 e 28 meses de idade aproximadamente e está relacionado ao manejo adequado de criação. Quanto melhor criados, mais precoce sexualmente são. Em sistemas semi intensivos, touros da raça Gir podem chegar a puberdade com 12 meses de idade.

Os bovinos que apresentam um grau de sangue zebuíno apresentam bons índices de reprodução dentro do rebanho. Segundo relatado em alguns estudos, a melhor idade de um primeiro parto para uma vaca atingir eficiência de produção durante a vida é de 22,5 a 23,5 meses. As fêmeas são consideradas boas parideiras, apresentam facilidade durante o parto e oferecem boa produção de leite.

Capacidade de adaptação à climas e sistemas do gado Gir

Por apresentarem excelente grau de rusticidade como principal característica, a raça Gir se adapta muito bem em diferentes climas e sistemas de criação. Apresentam altas taxas de produção ainda que a oferta de alimento esteja comprometida dentro da propriedade, situação que pode ocorrer em produções localizadas no nordeste do país onde a oferta de alimento pode ser um desafio para o produtor quando encontram-se nos períodos de seca. As vacas Gir conseguem tolerar altas temperaturas sem sofrer estresse térmico.

Produção leiteira das vacas Gir

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Segundo dados obtidos através da Associação Brasileira de Criadores de Gir Leiteiro a produção de leite de bovinos da raça Gir podem alcançar 3,233 mil kg de leite por lactação, esse número representa cerca de 12 kg de leite por dia.

Vantagens e desvantagens raça Gir

Principais vantagens:

  • Animais rústicos;

  • Adaptáveis a diferentes climas ;

  • Temperamento dócil e fácil manejo;

  • Apresentam bons índices de produção, mesmo quando é ofertado alimentos com baixo valor nutricional;

  • Oferecem um leite nutritivo e de boa qualidade, com boa aceitação no mercado;

  • Dupla aptidão podendo o pecuarista utilizá-lo na sua propriedade para ambas as criações (carne ou leite).

Desvantagens

  • Apresentam menores índices de produção, quando comparados com raças taurinas.

Principais cruzamentos da raça Gir

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Os cruzamentos observados entre as raças bovinas são realizados com muita frequência dentro dos sistemas de produção, principalmente para obtenção de exemplares cada vez mais especializados para a produção leiteira. Assim sendo, as raças priorizadas para este tipo de cruzamento são os animais mestiços Holandês-Zebu, ou seja, torna-se possível adquirir bovinos mestiços que apresentam características de uma raça europeia especializada em produção de leite com um zebuíno rústico e resistente, que apresentam outras qualidades que já vimos neste artigo. Portanto, o boi Girolando é uma raça sintética e bimestiça, derivada deste cruzamento e é considerada a mais popular e difundida no Brasil, nos tempos atuais.

Torna-se possível observar cruzamentos entre vacas Girolando com touros Nelore, com o intuito de venda dos bezerros para a pecuária de corte. Todavia, os cruzamentos utilizados dentro da produção devem ser estabelecidos a depender do objetivo de cada produtor.

Custo de criação do gado Gir

Reconhecer os custos de produção da sua propriedade em conjunto com a inserção de um plano de negócio são estratégias que devem ser adotadas pelo produtor para que se torne possível conhecer o custo da sua produção e torná-la economicamente viável.

Os custos referentes a alimentação dos animais, mão de obra, despesa com medicamentos e veterinário, devem ser inseridos nos custos operacionais do sistema. Segundo um estudo publicado por pesquisadores da Universidade de São Paulo, uma vaca da raça Gir apresentou um custo operacional total de R$2,857,15. Entretanto, a fase de recria na bovinocultura de leite representa a segunda maior despesa no sistema de criação, ficando atrás somente dos custos com alimentação.

Considerar também o custo do sêmen utilizados nos cruzamentos, também é um fator importante para iniciar a produção da raça ou de animais mestiços obtidos pelo melhoramento genético.

Curiosidades sobre a raça

  • Tornou-se conhecido na história como "boi de luta" pois a sua origem se deu em regiões habitadas por leões e animais selvagens, ao sul da Índia, onde lutavam para a sobrevivência;

  • No hinduísmo, o Gir é considerado um animal sagrado pela conformação anatômica apresentada pelo formato de seu crânio, significando a raça para os hindus a própria representação da criação na terra, uma divindade cultuada por eles através de anos;

  • É considerada pela literatura hinduísta a raça mais antiga do mundo, tendo a sua criação por mais de 300 anos na índia;

  • Única raça bovina puro-sangue do mundo a apresentar chifres voltados para trás e para baixo e com crânio ultra convexo;

  • Apresentam em sua fisiologia um sistema termorregulador que o permite tolerar altas temperaturas e climas adversos.

Referências:

Associação Brasileira dos Criadores de Girolando

ARAÚJO, G.D. et al. Histórico e caracterização da raça Gir aptidão leiteira na pecuária brasileira – revisão de literatura. PUBVET, Londrina, V. 6, N. 34, Ed. 221, Art. 1466, 2012.

GUIMARÃES et al. Eficiências Reprodutiva e Produtiva em Vacas das Raças Gir, Holandês e Cruzadas Holandês x Zebu. R. Bras. Zootec., v.31, n.2, p.641-647, 2002.

Associação Brasileira dos Criadores de Gir Leiteiro (ABCGIL)

Embrapa Gado de Leite - Sistema de Produção, No. 7

SANTOS, G &LOPES, M.A. custos de produção de fêmeas bovinas leiteiras do nascimento ao primeiro parto. Cienc. anim. bras., Goiânia, v.15, n.1, p. 11-19, jan. /mar. 2014.

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Luisa Duarte Rabello

Médica Veterinária formada pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. CRMV/RJ 17985.

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