Suinocultura: conheça as principais raças de porcos e dicas para a sua produção

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Atualmente o Brasil encontra-se em quarto lugar no ranking de maior produtor e exportador de carne suína.

Com uma cadeia produtiva competitiva no setor, a satisfação com a qualidade da carne suína brasileira no mundo vem sendo cada dia mais valorizada no mercado internacional.

Esse interesse impulsionou o crescimento da atividade e com isso, observou-se o emprego de tecnologias avançadas nos modelos de criação. Todavia, o Brasil está entre os 10 maiores produtores de carne suína do mundo e foi observado ano após anos, um aumento nessa produção de forma considerável.

De origem Asiática, o Sus scrofa mais conhecido como Suíno Doméstico foi introduzido no Brasil em 1532, pelo navegador Martim Afonso de Souza onde desembarcaram no litoral Paulista e logo a carne suína ganhou espaço na culinária nacional, agradando o paladar da população.

Com o passar dos anos, criadores começaram a produzir suas próprias raças, sempre com o objetivo para o consumo da carne e gordura. Com isso, técnicas de melhoramento genético foram empregadas com a importação de animais de outros países com a introdução das raças Landrace, Large White e alguns híbridos.

A partir daí, foi possível alcançar outros patamares na produção de suínos no país, com melhor assistência especializada e aprimoramento nos modelos de criação do setor.

Nesse artigo o mercado rural abordará os aspectos mais importantes no que diz respeito à criação de porcos.

Tipos de criação de suínos no Brasil e sistemas

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A suinocultura brasileira é dividida em dois tipos: industrial (tecnificada) ou de subsistência. Contudo, a criação tecnificada vem sendo muito observada e até pequenos criadores têm buscando implementar esse sistema em suas propriedades. Nesse tipo de criação, os animais recebem manejo nutricional com alimento balanceado para cada fase de vida, recebem cuidados sanitários e são mantidos em confinamento, em sua maioria.

Com relação a estrutura de produção, abate e processamento da carne suína, existem as grandes empresas e as organizações que atuam em mercados locais. As grandes empresas normalmente apresentam mais de uma unidade industrial e atendem a demanda de carne a nível internacional, enquanto as organizações de menor escala (micro, pequenas, médias empresas, cooperativas ou agroindustriais familiares) atendem a demanda local a nível de município ou regional, por estado.

Sistema Extensivo

O sistema Extensivo de produção de porcos é considerado na literatura como de subsistência e extrativista. É um sistema com pouco investimento em tecnologia e nos dias atuais, está entrando em desuso até mesmo por pequenos criadores.

Intensivo

Já o sistema intensivo de criação está ligado a viabilidade econômica, alta produtividade, investimento em melhoramento genético, nutrição, instalações e sanidade animal. Nesse sistema, os animais podem ser criados de forma livre ou em confinamento.

Com relação à localização dos sítios, os sistemas deprodução na suinocultura brasileira são classificados em:

  • Ciclo completo: sistema que envolve todas as fases da produção na mesma propriedade, desde a chegada até a terminação.

  • Sistema de dois sítios: produção ocorre em dois locais distintos e independentes. No sítio 1, são alojadas as matrizes, maternidade e creche e no sítio 2, a terminação;

  • Sistema de três sítios: nesse modelo, a produção acontece em 3 locais diferentes, no sítio 1 são alojadas as fêmeas e a maternidade, no sítio 2, a fase de creche e no sítio 3 a terminação;

  • Sistema de quatro sítios: parecido com o sistema anterior, a diferença desse modelo é que as leitoas de reposição são alojadas e preparadas em outro local. Quando confirmada a prenhes que são levadas para o sítio 1 tradicional.

Principais raças suínas e suas particularidades

As raças puras mais encontradas nas criações da suinocultura brasileira são: Duroc, Landrace, Large White e Pietrain.

Duroc

A raça Duroc foi criada no século 19 nos EUA, em Nova Jersey e Nova Iorque. A sua importação para o Brasil começou a ocorrer a partir de 1950. Apresentam pelagem vermelha, perfil fronto-nasal subconcavilíneo, orelha do tipo ibérico, bom comprimento e altura corporal.

Os animais dessa raça apresentam boa taxa de crescimento e boa conversão alimentar. As fêmeas possuem 6 a 7 pares de tetos, contudo, são limitadas com relação a produção de leite e habilidade maternal e produzem cerca de 10 leitões por leitegada. São animais rústicos e apresentam ótimos teores de gordura intramuscular na carne, acima da média apresentada pelas outras raças.

Landrace

A raça foi criada no norte da Espanha, Portugal, França, Itália e em diversos países nórdicos. O Brasil adquiriu a raça a partir da importação de reprodutores da Suécia em1958. O landrace brasileiro apresenta em seus cruzamentos sêmen de diferentes países, portanto, é uma raça com alta variabilidade genética.

Apresentam pelagem branca, orelhas do tipo céltico, grande comprimento corporal e profundidade, perfil cefálico retilíneo. São animais precoces sexualmente, as fêmeas apresentam de 6 a 8 pares de tetos e possuem habilidade materna e são boas produtoras de leite. São suínos com alta taxa de crescimento, baixa deposição de gordura e carne de boa qualidade. Possuem grande conformação de pernil em suas linhagens e alto rendimento de carne.

Large White

Essa raça suína foi importada para o Brasil através da Suécia em 1968. Sua variabilidade genética é composta por sêmen oriundos também da Holanda, EUA, Alemanha, França, Canadá.

Possuem pelagem branca, orelhas eretas e apresentam um perfil fronto nasal subconcavilíneo a concavilíneo. Seu porte é pequeno, com corpo curto e baixo. Animais precoces e a as fêmeas apresentam de 6 a 8 pares de tetos ou mais. São animais com elevadas proles, taxa de reprodução e crescimento diário alto. Sendo assim, apresentam ótimos índices de eficiência alimentar.

Pietrain

Raça de origem Bélgica, foi introduzido no país em 1967. Apresentam pelagem malhada que varia em tons de cinza, marrom e vermelho. Orelhas do tipo asiático e perfil cefálico subconcavilíneo também são características zootécnicas esperadas da raça. Apresentam baixa espessura de toicinho, conformação de carcaça e boa musculatura.

É considerada a raça suína com menor deposição de gordura e maior de carne. As fêmeas possuem de 6 a 7 pares de tetos e podem produzir cerca de 11 leitores por leitegada. Contudo, por seres animais pequenos, observa-se uma menor taxa de crescimento e são mais suscetíveis ao estresse. São mais utilizados para criação de linhagens paternas e sintéticas de machos para adquirir reprodutores mestiços híbridos, em cruzamentos com Duroc e Large White.

Infraestrutura necessária para criação e planejamento da suinocultura

Para iniciar um projeto para produção de carne suína primeiramente deve-se levar em consideração a possibilidade de investimento inicial do produtor, qual a viabilidade econômica e os tipos de manejo que serão adotados. Quando se fala em criação de porcos, outro fator muito importante a considerar está relacionado a implementação de uma produção voltada para o bem-estar e ambiência.

Atente-se a legislação em vigor e escolha o local para a construção da granja levando em consideração o meio ambiente, respeitando os cursos d'água, as estradas e etc. Todavia, os dejetos líquidos devem ser tratados e o destino final deles, de acordo com o sistema adotado. Fatores relacionados a infraestrutura e topografia devem ser avaliados antes da construção da granja, como: energia elétrica disponível, estradas de acesso para grande veículos, água de qualidade e em quantidade satisfatória disponível, terrenos planos, solos de boa drenagem e espaço físico suficiente com 20m de espaço entre os barracões. Outros fatores como: ventilação natural, posição solar e biosseguridade também deve ser estudados.

Fases de criação no sistema intensivo

Amamentação

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  • Idade de 0 a 28 dias;

  • Peso médio final de 5 a 8 kg;

  • Duração média de 21 a 28 dias. Essa é a fase onde os cuidados são voltados para os leitões e as matrizes, onde a oferta de um colostro de qualidade está relacionado ao manejo e condições confortáveis dentro do galpão. Os leitões não recebem a imunidade através da placenta, então é imprescindível que nessa fase ele mame ocolostro da mãe.

Creche

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  • Idade 28 a 63 dias;

  • Peso médio final de 25kg;

  • Duração média de 35 dias. Os leitões nessa fase já estão desmamados e ocorre as principais mudanças alimentares.

Crescimento

  • Idade de 63 a 105 dias;

  • Peso médio final de 55kg;

  • Duração média de 42 dias. O fator mais importante nessa fase é o ganho de peso, onde acontece a maior deposição de gordura na carcaça.

Terminação

  • Idade 105 a 140 dias;

  • Peso médio final de 100kg;

  • Duração média de 35 dias. O ganho de peso e ingestão de alimentos são altos nessa fase. Buscar por alimentos alternativos nessa fase é uma boa escolha para o produtor diminuir o custo.

Pós-terminação

  • Idade 140 a 160 dias;

  • Peso médio final de 120kg; Duração média de 20 dias. Fase criada com o objetivo de maior crescimento e rendimento corporal.

Reprodução

  • Idade acima de 180 dias;

  • Peso médio final acima de 120kg; A fase de reprodução é aumentar o número de nascidos viáveis. Assim, o produtor consegue ter um número de terminados/porca/ano maior.

Dimensionamento de instalações e sua importância na suinocultura

A importância do dimensionamento das instalações está intimamente relacionado com a prevenção e controle de doenças, através do vazio sanitário e programação dos lotes no sistema "todos dentro-todos fora" na maternidade, creche, recria e terminação. Sendo assim, para que esses sistemas funcionem, torna-se necessário o planejamento das instalações e o manejo dos suínos. O tamanho da granja de produção de leitões será determinado através do número de matrizes produtivas. Ao planejar uma granja, o produtor deve saber qual o volume de produção que ele almeja por semana, por leitões/semana ou quilogramas de suínos/ano. E isso também dependerá da demanda de mercado na região, disponibilidade de área e do quanto ele pode investir.

Uma questão importante é sobre quantos animais o produtor pretende vender por período de tempo antes de terminar o tamanho do plantel para que a construção da granja seja realizada de forma correta, com as salas por fases de produção possibilitando a realização do vazio sanitário entre lotes dos animais.

Considerações sobre gaiolas na maternidade

É recomendado que seja trabalhando um grupo de parição por 31 dias. Ou seja, 3 dias para o pré parto, 23 dias de lactação e 5 dias após desmame. Esse intervalo significa espaço de 4,5 lotes semanais de parto. Já o cálculo da reposição deve ser feito através do percentual de fêmeas a serem substituídas ao longo do ano. Assim, se estabelece o número correto de marrãs em estoque. Os índices mais utilizados são de 30 a 45%.

Considerações sobre fase de crescimento

Compreende entre o desmame e o abate. Creche, recria e terminação são os locais que o suíno passa a maior parte da vida.

Considera-se para o dimensionamento o tamanho do lote, tamanho das baias, o espaço por animal e forma de arraçoamento. A fórmula para definir o número de lotes por fase é: Número de lotes: (período de ocupação + vazio sanitário)/intervalo entre lotes.

Alimentação na suinocultura

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O manejo nutricional é de suma importância em qualquer sistema de produção animal. Na suinocultura, pensar em alimentação deve estar sempre associada a cada fase de crescimento do suíno. A ração precisa ser balanceada e apresentar proteínas, minerais, energia e vitaminas. Todavia, alimentos como o milho e a mandioca, podem ser usados como fonte de energia, já a soja, o sorgo, a farinha de carne e ossos podem ser usados como fonte proteica. Contudo, lembrando sempre da importância de buscar ajuda especializada de um profissional para formular a melhor dieta a ser inserida no manejo alimentar dos animais.

Dicas para novos e antigos produtores

Para se escolher o melhor sistema de produção a ser implementado na propriedade para a criação de suínos, o produtor deve levar em consideração fatores como:

  • biosseguridade regional
  • escala de produção
  • qual o seu perfil como produtor
  • pirâmide sanitária
  • logística e viabilidade operacional
  • recursos ambientais disponíveis
  • mão de obra
  • avaliação de custos
  • capacidade de investimento em tecnologias

É importante destacar que a atividade na suinocultura exige do produtor e funcionários muita dedicação para que se possa colher frutos no futuro. Sendo assim, o capital é um ponto importante para obtenção de bons índices na cadeia produtiva para posteriormente, render bons lucros.

Investir em treinamento e capacitação, além de motivação de trabalho afeta de forma considerável os resultados da produção. Outro fator importante é realizar a construção de galpões pensando no bem-estar dos animais, principalmente na fase de gestação das fêmeas.

Referências:

FERREIRA, R.A. Suinocultura: Manual Prático de Criação. Editora Aprenda Fácil. Viçosa, MG. 2017. 2ª edição. 442p.

Associação Brasileira de Criadores de Suínos. Produção de suínos: teoria e prática / Coordenação editorial Associação Brasileira de Criadores de Suínos; Coordenação Técnica da Integrall Soluções em Produção Animal.-- Brasília, DF, 2014.

ALBUQUERQUE, N.I. de; FREITAS, C.M.K.H. de; SAWAKI, H.; QUANZ, D. Manual sobre criação de suínos na agricultura familiar: noções básicas. Belém: Embrapa-CPATU, 1998. 37p. (Embrapa-CPATU. Documentos, 115).

Manual brasileiro de boas práticas agropecuárias na produção de suínos/ elaboração de conteúdo técnico Alexandre César Dias...(et al). Brasília, DF: ABCS;MAPA; Concórdia: Embrapa Suínos e Aves, 2011. 140 p; 29,7cm.

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Luisa Duarte Rabello

Médica Veterinária formada pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. CRMV/RJ 17985.

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