Raças de cavalo e a equinocultura no Brasil

Segundo a FAO (2016) o Brasil é considerado o quarto maior produtor mundial de cavalos com cerca de 5,5 milhões de animais distribuídos do Norte ao Sul do país. O mercado de equinos gera em territórios nacionais o equivalente a 3,2 milhões de empregos diretos e indiretos e movimenta aproximadamente 16 bilhões de reais por ano na economia (MAPA, 2016).

Todavia, fazer parte do "Complexo Agronegócio do Cavalo" desperta o interesse de diversos produtores pelo país pela característica de versatilidade apresentada por esses animais, além dos mesmos possuírem uma beleza exuberante que atrai uma legião de simpatizantes pelas raças equinas, não só aqui no Brasil, mas pelo mundo afora. Sendo assim, os cavalos podem ser criados para diversas atividades, tais como: criação para o comércio de animais vivos inclusive para exportação, esportes equestres, escola de equitação, equoterapia, atividades agropecuárias, reprodução, lazer, uso próprio ou para o trabalho.

Um levantamento bibliográfico sobre o Complexo Agronegócio do Cavalo ainda revelou que as raças que mais predominam em criatórios nacionais são o Mangalarga Marchador, Nordestino, Quarto de Milha e o Cavalo Crioulo.

O mercado rural através desse artigo abordará os principais aspectos relevantes sobre a criação de equinos no país assim como características e finalidades das principais raças mais importante na atividade brasileira.

História da criação de cavalos no Brasil

Segundo relatos descritos na literatura, foi no ano de 1535 na época do Brasil colônia que Duarte Coelho chegou na capitania hereditária de Pernambuco com os primeiros exemplares de equinos trazidos de Portugal e Espanha, embora visto que alguns escritores apresentem discordâncias a respeito dessa informação. As primeiras raças introduzidas no país naquela época foram a Andaluz e o cavalo Árabe, tornando-se as principais raças que posteriormente desenvolveriam o cavalo brasileiro. Sendo assim, pelas características climáticas e de ecossistemas observados no país, ocorreu uma seleção dos animais onde foi utilizado o tipo de cavalo de acordo com a finalidade e região onde era estabelecida a sua criação.

Também é descrito na literatura que de forma oficial a chegada do cavalo no país apenas foi reconhecida no ano de 1549, através de Tomé de Souza que trouxe alguns animais do Cabo Verde para Bahia. No período da indústria açucareira com os primeiros engenhos surgiu a pecuária brasileira e com isso, a utilização dos cavalos para trabalho e força motriz foi cada vez mais explorada. A criação de gado nessa época foi uma atividade crescente, principalmente durante o ciclo de mineração e os cavalos sendo cada vez mais utilizados na lida com o gado. Contudo, as criações de equinos foram parar no interior do país, centro oeste e norte. Em contrapartida, na mesma época foi observado núcleos de criação também no Rio de Janeiro e em São Vicente. Com a expansão de atividades mineradoras os cavalos chegaram a Minas Gerais e Goiás.

Todavia, com a vinda da família real, foi observado a importação de cavalos para o Brasil destacando nesse período a chegada de cavalos da Áustria, importados pela Imperatriz D. Leopoldina.

Com o passar dos anos, a equinocultura aumentou de forma significativa em territórios nacionais, sendo assim, surgiram as associações de criadores que permitiram padronizar todas as características das raças desenvolvidas. E hoje existem várias Associações de equinos no país, dentre elas: Associação da raça crioulo, Campeiro, Pantaneiro, Campolina, Mangalarga Machador, Bretão, Mangalarga Paulista, Nordestino, Marajoara, Brasileiro de Hipismo e Cavalo Pônei, entre outras associações espalhadas pelo Brasil.

Os equinos tiveram um papel fundamental no país nos setores econômicos, sociais e políticos. No entanto, a presença do cavalo para sela na pecuária utilizado como animal de carga ou tração, foram fundamentais para a economia e atividades de esporte e lazer importantes sob os aspectos sociais.

Principais raças de equinos criadas no Brasil, suas características e finalidades da criação

Appalooza

Cavalo1.jpg

Raça americana, possuem uma beleza exótica devido sua pelagem malhada, muito velozes e rústicos, também conhecidos como "cavalos pintados", estão presentes em grande parte no estado de São Paulo. Apresentam porte médio, com cabeça pequena e perfil retilíneo. As pelagens mais comuns da raça são a alazã, alazã tostada, baia alazã, negra, palomina, baia, castanha, zaina, tordilha e rosilha, leoparda e nevada. Cavalo de sela, utilizado para lida no campo, assim como participam de desfiles, exposição,provas de apartação e laço de bezerro.

Andaluz

Cavalo2.jpg

Raça predominante entre criadores do estado de São Paulo, a Andaluz teve origem do cruzamento entre cavalos ibéricos com os berberes. Cavalo de sela mais antigo do mundo, a sua genética encontra-se presente no desenvolvimento de cavalos de outras raças como o PSI, campolina, quarto de Milha e alter real. Apresentam o porte médio e podem possuir pelagem castanha, tordilha, alazã, preto, baia, rosilha, mouro e pampa. São utilizados para provas de salto, adestramento, enduro, atrelagem ou para passeios/lazer. São animais resistentes, dóceis e apresentam uma marcha alta.

Bretão

cavalo3.jpg

O Cavalo bretão foi trazido para o Brasil para exercer atividades dentro do exército brasileiro, deslocando equipamentos de artilharia. Essa raça é de origem Francesa e a partir de garanhões inseridos no país para cruzamento com éguas nacionais, foi possível que a raça fosse dispersada pelo país. Cavalo de tração, de porte médio e fácil manejo pois são muito dóceis. Podem apresentar pelagem alazã, castanha e suas variações. Raça muito utilizada por pequenos produtores servindo para deslocar carroças. São cavalos muito fortes, capazes de arrastar até 4 vezes o seu próprio peso quando bem alimentados e treinados (CINTRA, 2012). Também são utilizados em provas de atrelagem, volteio, sela e trabalho florestal.

Campolina

cavalo4.jpg

A raça foi criada para serem animais de grande porte, resistentes e ágeis com andadura confortável, sendo selecionadas as raças anglo-normando, puro sangue inglês e outros animais ibéricos para obter animais com essas características nos cruzamentos. Apresentam conformação óssea e muscular para a marcha. Sua pelagem em grande maioria é a baia, mas existem também o campolina alazão, castanho, preto, tordilho e pampa. Muito utilizado nas provas de marcha e cavalgadas.

Cavalo Árabe

cavalo5.jpg

Raça de cavalo mais antiga do mundo. Segundo a Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Árabe a criação no Brasil teve início no Rio Grande do Sul, onde foi importado um garanhão da Argentina. É uma raça considerada multifuncional e bastante utilizada na lida com o gado, onde desempenham um excelente papel. São muito resistentes, sendo aproveitados em corridas, enduro, CCE, rédeas, turfe, performance e em provas de exposição (halter). Podem apresentar pelagem castanha, tordilha, preta, alazã ou baia. Possuem boa musculatura e força e são animais muito dóceis.

Cavalo Crioulo

cavalo6.jpg

Considerada uma raça rústica e resistente, foram trazidos da península ibérica para região sul do país. Apresentam diversas pelagens, menos a pintada e albina total. São animais que apresentam facilidade de adaptação, são resistentes e de temperamento muito dócil. A raça é considerada versátil, muito ativa, além de possuir uma estrutura anatômica muito harmônica. Nos dias atuais, a prova "Freio de Ouro" tornou-se imprescindível como forma de incentivo para o melhoramento da raça, o que levou também a popularização da mesma.

Puro Sangue Lusitano

cavalo7.jpg

Essa raça pesa cerca de 500kg, apresentam altura média e a pelagem mais apreciada são a tordilha e a castanha. De temperamento dócil, são animais ágeis e com andamento cômodo para quem o monta. São muito utilizados para combate, caça, toureiro e manejo de gado. Possuem membros com boa musculatura e são bem prumados.

Mangalarga

cavalo8.jpg

A família Junqueira iniciou-se a criação da raça no sul de Minas Gerais e algum tempo depois, a família mudou-se para São Paulo e lá se estabeleceu a criação do mangalarga que logo se popularizou pelas cidades vizinhas paulistas. Todavia, o formador principal da origem da raça foi o cavalo alter de Portugal, através de Napoleão Bonaparte. Apresentam características de boa andadura, resistência, docilidade e nobreza no comportamento. Muito utilizados para o trabalho e esportes, possuem uma marcha trotada como principal característica. Sua pelagem é variada, podem possuir todas, menos albina ou pintada.

Mangalarga Marchador

cavalo9.jpg

Raça brasileira e muito popular, está presente em diversas regiões do pais. Sua origem se deu no estado de Minas Gerais, através de cruzamentos da raça alter real com outras raças selecionadas. São animais de porte médio e apresentam boa musculatura. Todas as pelagens são admitidas, menos a branca e despigmentada. Considerados muito ágeis e resistentes, são animais de sela, cavalgadas e muito utilizados em campeonatos de marcha. Apresentam uma marcha picada ou batida e são bons equinos para provas de enduro, já que são resistentes.

Nordestino

cavalo10.jpg

A raça é de origem Barbo Árabe, oriundos de Portugal e Espanha. No Brasil é considero um cavalo sertanejo, presente a mais de 400 anos no sertão Nordestino. São animais extremamente resistentes que se adaptam a diversos climas, altas temperaturas e escassez de alimento. São utilizados principalmente para a lida e trabalho de campo, apresentam temperamento dócil e boa conformação muscular. Sua pelagem característica é diversa.

Conhecidos como "pé duro" trabalham sem a necessidade de ferraduras nos solos do sertão. Apresentam um andamento marchado e são animais de porte médio. Embora apresente diversas características positivas, a raça começou a se extinguir no país e alguns criadores vêm lutando para tentar recuperar a valorização da raça e manter a preservação da história da mesma na região.

Pantaneiro

cavalo11.jpg

Oriundos do cruzamento do Cavalo Crioulo Argentino com o Cavalo Paulista, são animais utilizados nas regiões do Pantanal na lida com o gado. Tornaram-se muito bem adaptados a região, são muito resistentes, ágeis e fortes e muito dóceis. Porte médio, sua pelagem principal é a tordilha. Apresentam bons aprumos e são musculosos, com tendões e ossos fortes.

Quarto de Milha

cavalo12.jpg

A raça chegou no país na década de 50, em Presidente Prudente/SP, importado dos Estados Unidos por um haras da região. São animais extremamente dóceis e muito adaptáveis. São utilizados na lida e em provas equestres, podendo percorrer distâncias curtas com alta velocidade. A pelagem varia podendo ser alazã, baia, castanha, rosilha, tordilha, lobuna, preta ou zaina. Apresentam andamento harmonioso e musculatura muito desenvolvida.

Brasileiro de Hipismo

cavalo13.jpg

Com o intuito de criar uma raça nacional específica para competições de hipismo, Ênio monte desenvolveu a raça através de cruzamentos entre Orlof com Westfalen, entre outras raças. Fisicamente são animais leves, de grande porte e muito rápidos. Cabeça média e perfil reto ou subconvexo, membros fortes com andadura elevada e extensa. Indicado para esportes hípicos como saltos, adestramento ou CCE. Também são muito utilizados pelas polícias militares.

Puro Sangue Inglês

cavalo14.jpg

Também chamado de PSI, a raça é oriunda da Inglaterra. Possuem porte médio a grande. Apresentam temperamento ativo e destemido e são muito velozes em provas de velocidade e salto. Também são animais utilizados no adestramento e CCE. Podem apresentar pelagens castanha, alazã, negra ou tordilho.

Infraestrutura para criação de cavalos

Para o produtor que deseja iniciar-se em uma criação de cavalos, segundo Bird (2004) as instalações devem ser construídas considerando todas as características físicas e comportamentais dos animais, higiene, segurança e conforto, proteção contra umidade e vento.

É de grande importante que os cavalos fiquem num mesmo grupo social no pasto e mantidos em áreas entre 2.000 a 4.000m2 por animal.

A pastagem deve necessariamente apresentar cerca de 0,4 hectare ou 1 acre por equino. Água de qualidade, fresca e em abundância deve estar presente nesse espaço, assim como sombra e cerca com altura mínima de 1,40 m.

Contudo, em propriedades que apresentam piquetes coletivos, os mesmos devem ter no mínimo 400m2 e que permita o alojamento de ao menos 2 cavalos. Esses piquetes devem ser construídos em regiões planas com áreas mais elevadas e precisam apresentar uma fonte de água e sombra.

O planejamento do tipo de cerca que será escolhido na fazenda é de grande importância, tendo em vista que as cercas de arame farpado são as melhores opções encontradas no mercado, pois em propriedades que possuem cerca do tipo lisa, foram observados uma incidência maior de acidentes com os animais. Os fios elétricos também são uma boa alternativa. Segundo Cintra (2010), cercas vivas devem ser evitadas pois estressam os animais devido ao isolamento visual.

O tamanho de 4mx4m é o mais recomendado para espaço mínimo entre baias ou cocheiras e as mesmas devem apresentar aberturas que permitem circulação de ar e a visualização dos animais.

O pé direito deve ser alto, apresentando no mínimo 3 metros de altura e a iluminação de preferência natural. O piso das instalações deve conferir conforto ao animal, de fácil higienização e manejo. Pode ser de concreto, areia, chão batido, borracha e a escolha deve ser feita pelo produtor conforme viabilidade do mesmo e qual o melhor custo benefício para sua criação, contudo, todos os tipos de piso haverá a necessidade de cama nas baias.

Alimentação dos Equinos

A alimentação adequada dos equinos é de suma importância para o suprimento de energia que esses animais precisam para exercerem suas atividades diariamente. Contudo, uma dieta equilibrada para os cavalos deve ser elaborada por um profissional e ser específica para cada fase de vida, peso, atividade exercida e estado produtivo, no entanto, os nutrientes básicos necessários são proteínas, carboidratos, gorduras, vitaminas e minerais. Esses nutrientes são adquiridos através do pasto, capim cortado, feno ou silagem, dos concentrados grãos e rações, dos suplementos e claro em conjunto com a oferta de água limpa, de qualidade e em abundância. Isso proporcionará ao animal um bom score corporal durante sua vida.

O recomendado para os equinos é que seja oferecida uma dieta totalmente a base de pasto e feno ou com no mínimo 70% de volumoso, exceto para casos com exigências especiais em que está porcentagem pode ser menor (CINTRA,2010). Isso faz com que haja uma queda na incidência de úlceras gástricas pois com esse tipo de dieta, ocorrerá um maior controle da acidez no estômago dos animais. Quando oferecidos concentrados, os mesmos devem ser incluídos na dieta de 30 a 60 minutos após a ingestão do volumoso e de 40 a 60 minutos antes e depois de exercer as atividades. Segundo Harris (1999) o sal mineral pode ser suplementado à vontade, pois o mesmo repõe os sais perdidos através da sudorese.

Reprodução Equina

A inseminação artificial (IA) e transferência de embriões (TE) de equinos são biotecnologias muito praticadas e disseminadas no mercado do cavalo hoje em dia. Em busca do aprimoramento das raças através dos cruzamentos, essas técnicas oferecem também uma melhor eficiência reprodutiva, promove o descanso de garanhões e multiplica o material genético dos melhores cavalos do plantel. Além disso, o uso de IA pode também permite o uso de produtos de reprodutores de outros países ou que morreram, dificulta a transmissão doenças e facilita teste de progênie. Para implementação de um programa de IA torna-se necessário o investimento em bons machos, controle sanitário e profissionais capacitados.

Já a TE auxilia na seleção dos animais e acelera o melhoramento genético. Essa técnica possibilita um melhor aproveitamento das raças sendo cada vez mais utilizada para obter potros, segundo Lira (2009). Contudo, segundo o mesmo autor essa biotecnologia vem sendo empregada para produção de múltiplos potros por égua durante o ano, para melhor aproveitar e éguas com alto valor zootécnico, mas que estejam idosas ou em atividade esportiva ou gerar partos de éguas sub férteis.

Custo da produção

Mas afinal, qual o custo para o produtor iniciar uma atividade de Equinocultura?! Tudo dependerá principalmente de qual será a finalidade da criação. A partir disso, o produtor consegue avaliar todos os custos presentes através de um planejamento que deverá ser feito avaliando qual a raça escolhida, o tamanho da propriedade e quantos animais ele pretende criar, o tipo de infraestrutura que ele pode oferecer, o capital disponível pelo mesmo para iniciar na atividade.

Torna-se necessário levar em consideração também os investimentos em manejo reprodutivo, principalmente se a finalidade for na criação de animais para esportes equestres, e o manejo higiênico sanitário contratando mão de obra capacitada para tal.

Referências:

Cavalo Manga Larga

Associação Brasileira de Criadores do Cavalo Puro Sangue Lusitano

M665m Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Manual de boas práticas de manejo em equideocultura / Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria de Mobilidade Social, do Produtor Rural e Cooperativismo. – Brasília : MAPA/ACE/CGCS, 2017. 50 p.

CARVALHO, Ricardo Bastos. “CARACTERÍSTICAS E IMPORTÂNCIA ECONÔMICA DE ALGUMAS RAÇAS EQUINAS CRIADAS NO BRASIL.” /Ricardo Bastos Carvalho; Fernanda Cipriano Rocha; Gilberto Gonçalves Leite. - Brasília 2020 – 50 p: il. Monografia de Graduação (G) - Universidade de Brasília / Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, 2020.

Revisão do estudo do complexo do agronegócio do cavalo. MAPA, 2016. Elaboração: Roberto Arruda de Souza Lima- ESALQ/USP e André Galvão Cintra -FAJ.

ZAPPA, Vanessa. Aspectos da Reprodução Equina: Inseminação Artificial e Transferência de Embrião: Revisão de Literatura. Revista Científica eletrônica de Medicina Veterinária, ano XI- número 21 - Julho de 2013.

Author Photo

Luisa Duarte Rabello

Médica Veterinária formada pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. CRMV/RJ 17985.

© 2024 Mercado Rural, Inc.

Artigos