O que é Piscicultura? Descubra quais os tipos e como se tornar um produtor
O que é Piscicultura?
Segundo definição encontrada no dicionário de língua portuguesa, o termo Piscicultura significa, nada mais nada menos que: criação de peixes.
Todavia, quando relacionada a termos zootécnicos, a piscicultura é a produção de peixes realizada, em sua maioria, de maneira controlada e em ambientes específicos. Considerada uma atividade aquícola relativamente nova no ambiente rural, com níveis de produções diferentes e com uso de diversas espécies aquáticas.
A criação de peixes pode ser uma atividade desafiadora para o produtor, porém, muito lucrativa e que apresenta bons desempenhos, desde que ele busque conhecimentos técnicos necessários para iniciar neste tipo de atividade.
O Brasil apresenta regiões hídricas extensas, com mais de 7 mil km de costa marítima e cerca de 10 milhões de hectares em regiões aquáticas, tornando-se a produção, uma atividade promissora. De acordo com a Associação Brasileira de Piscicultura, o Brasil atingiu mais de 800 mil toneladas de peixe no ano de 2020, um aumento de 38,7% comparado com 2014. O destaque na produção se dá através da criação da espécie tilápia, levando o país ao 4° lugar no ranking global de produção. Todavia, apresentamos bons números na criação de peixes de água doce, pela alta produção nas regiões amazônicas.
Neste artigo o mercado rural vai abordar todos os aspectos importantes que envolvem a piscicultura, caso você tenha interesse em empreender nesse setor, preste muita atenção no texto e faça suas anotações.
Como se tornar um piscicultor? Primeiros passos necessários para começar na Piscicultura.
A criação de um planejamento visando a implementação de um projeto de piscicultura é o passo crucial para quem deseja iniciar na atividade, tendo em vista que a colocação do projeto em prática é de suma importância para o desenvolvimento de uma produção economicamente viável e sustentável. Torna-se necessário que o produtor busque conhecimento sobre a propriedade onde pretende começar o negócio, pois a criação envolve diretamente as condições climáticas do local e principalmente, a quantidade e qualidade de água disponível na região.
Avaliar a quantidade de água disponível ao longo do ano, em épocas de chuvas e secas (principalmente no pico de seca) é essencial para exercer um manejo adequado na criação de peixes. Uma das alternativas para criadores de regiões áridas ou semiáridas é utilizar açudes ou viveiros com profundidades maiores, assim encontrarão água disponível nos períodos mais críticos. Contudo, se a atividade é exercida em tanques-redes torna-se imprescindível avaliar a variação do nível de água durante os períodos de seca e cheia. Uma consideração importante sobre o uso de água, está relacionado ao licenciamento que precisa ser realizado junto a órgão ambiental, que autoriza a captação e uso da água de forma regular e correta, o que torna a criação sustentável, preocupação crescente e essencial nos dias atuais.
Buscar conhecimentos na área, como entender o funcionamento do meio aquático é fundamental para que o criador saiba as condições ideais para o bom desenvolvimento dos peixes. Todavia, com isso, proporcionar um ambiente equilibrado com a presença de bactérias e fungos ideais para decomposição de material orgânico e a presença de fitoplânctons, pequenas algas responsáveis pela coloração verde da água, mas de grande importância para a manutenção dos peixes dentro do viveiro, pois torna-se o principal produtor de oxigênio para a respiração dos animais e de todos os organismos vivos presentes no meio, além de serem capazes de absorverem fezes e resíduos excretados pelos peixes.
Ao adotar medidas como realizar a manutenção do pH da água e quantidade adequada de ração oferecida aos animais, torna-se possível estabelecer a quantidade necessária de fitoplâncton dentro da criação e assim estabelecer um equilíbrio, evitando o comprometimento da saúde dos peixes, mortalidades ou baixo crescimento na produção, que podem ocorrer por falta de oxigênio suficiente dentro dos criatórios.
Outro passo importante para se tornar um piscicultor é conhecer e avaliar o mercado onde os peixes serão comercializados e quais espécies têm maior aceitabilidade por parte do consumidor. Portanto, é necessário também realizar o cadastro como produtor rural através de órgãos competentes para comercializar os animais produzidos.
Sabe-se que nos dias atuais o mercado intermediário é o que movimenta a economia na piscicultura, onde geralmente é comprado o peixe diretamente da propriedade e são repassados para frigoríficos, feiras, entre outros. Os pesque-pague, frigoríficos e a venda direta também são bons canais para venda.
Elaborar um projeto técnico com auxílio de profissionais capacitados na área é o principal ponto relevante para um sucesso na criação.
Com isso, torna-se possível gastar menos na implementação do sistema e melhorar o aproveitamento de área da propriedade. O profissional de forma detalhada elaborará todas as etapas do processo, considerando quanto o produtor pode gastar, qual a topografia do local, disponibilidade de água, entre outras informações necessárias. Ainda que a criação seja de pequeno porte, torna-se imprescindível a orientação de um profissional.
Outros pontos importantes a serem levados em consideração para implantar um projeto de piscicultura em uma propriedade, são:
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Monitoramento de qualidade da água através de parâmetros (oxigênio, temperatura, pH, amônia, transparência, dureza, nitrito e gás carbônico). Água de qualidade ruim atrapalha o crescimento, conversão alimentar e propicia o aparecimento de doenças nos peixes;
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Avaliar o risco de enchentes na região;
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Profundidade e taxa de renovação da água;
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Trabalhadores para atuar na criação;
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Fornecedores de insumos;
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Assistência técnica;
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Tipo de solo, para criação em viveiros ou tanques é importante que seja um solo argilo-arenoso ou sílico argiloso.
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Regularizar a atividade através de registros e licenças emitidos por órgãos federais, estaduais e municipais, com ajuda técnica de profissionais;
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Planejamento da produção e inserir atividades de rotina (despesca, alimentação, manejo da água, transferências e etc.);
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Controle zootécnico, com registro de dados e cálculos de índices de produção, assim como realizar a avaliação dos resultados técnicos;
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Controle financeiro realizando o registro dos custos, compra de insumos e demais despesas de toda a atividade, registro de despesas e das receitas;
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Calcular os resultados operacionais no final do ciclo de produção para avaliar o desempenho e abordar estratégias mais eficazes caso precise melhorar;
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Utilizar densidade correta de peixes, pois quantidades além de peixes dentro da criação atrapalha a conversão alimentar e ocrescimento.
Piscicultura Extensiva
Esse sistema de criação tem como principal característica a inserção de peixes em represas e lagos, sendo criados nesses ambientes até o momento da sua retirada. Não existe a oferta de rações nesse sistema, tão pouco manejo. É o sistema que menos produz, porém, é o que demanda menor investimento inicial. Principais espécies encontradas nesse sistema: tilápia, carpa, piau, tambaqui, surubim, pacu, tambacu e matrinchã. Taxa de estocagem: um peixe/10m2.
Piscicultura Intensiva
Nesse sistema, o objetivo da criação é a alta produtividade. Todavia, são utilizados viveiros para a finalidade de criar os animais. Realiza-se manejo alimentar, com rações balanceadas e específicas para cada fase de desenvolvimento. As espécies mais utilizadas nesse sistema são tilápias e surubins. Observa-se o monocultivo neste tipo de criação. Taxa de estocagem: 1 a 3 peixes /m2.
Sistema de criação: Viveiros e tanques
O sistema de criação de peixes mais comumente utilizado no país é através de viveiros ou açudes.
Viveiros são reservatórios escavados no terreno natural, apresentam formato retangular na maioria das vezes, com o fundo uniforme. Constituídos de sistemas de bombas para abastecimento e drenagem de água.
Os açudes são represas construídas em locais baixos, com aterro, o que possibilita armazenagem de água da chuva ou nascentes. O formato e tamanho vai depender do terreno onde será construído.
No sistema com tanques-rede ocorre o confinamento dos peixes, por meio de telas e flutuadores. A água circula entre o ambiente e o tanque-rede. Portanto, a qualidade da água é um fator importante nesse tipo de sistema. Esses tanques apresentam uma variedade de tamanhos e formatos, a depender da produção. É uma boa opção para evitar ataques de predadores e mortalidade dos peixes. São utilizados tanto em reservatórios, rios ou mares.
Os tanques de alvenariafeitos de concreto ou cimento, possuem fundo de terra e as paredes de alvenaria. São mais utilizados em grandes criações, onde a renovação de água é constante.
Tanques de lona de PVC apresentam praticidade com relação a despesca, fácil higienização e possibilita a economia de água devido a impermeabilidade presente no material. Espécies como tilápias, pirarucus e pacus se adaptam bem a esse tipo de tanque.
Alimentação na Piscicultura
O manejo alimentar na piscicultura é um aspecto importante para o desenvolvimento dos peixes. Conhecer os hábitos alimentares dos animais torna-se essencial para o fornecimento de um alimento balanceado e adequado, para as diferentes espécies e fases de vida.
Existem os peixes que se alimentam dos plânctons, que são chamados de planctófagos. Contudo, nota-se que a maioria dos peixes nas fases iniciais da vida, são planctófagos. Embora a espécie Tilápia tem preferência alimentar pelos plânctons também na fase adulta.
Já os peixes herbívoros, a sua base alimentar é formada por vegetais. As espécies dessa categoria normalmente apresentam dentição capaz de cortar os alimentos ao consumi-los.
Os peixes que se alimentam de larvas, ovos de moluscos, fezes e algas, são chamados de bentófagos, iliófagos ou detritivos e a espécie carpa está dentro desse grupo.
As espécies consideradas carnívoras têm como base alimentar insetos, anfíbios, cobras ou peixes. Estão nesse grupo os pirarucus e tucunarés.
Tornou-se possível observar, através de estudos, que os alimentos naturais consumidos pelos peixes apresentam valores energéticos de qualidade e quantidade satisfatória. Contudo, em sistemas intensivos de criação, essa alimentação se torna deficiente na fase adulta, sendo necessário suplementação nutricional com aminoácidos essenciais (arginina, histidina, triptofano, entre outros).
A disponibilidade de energia também é um fator nutricional a se considerar e os peixes a adquirem no metabolismo de carboidratos, lipídios e aminoácidos presentes no milho e sorgo.
Os minerais que atuam principalmente na formação óssea e as vitaminas também precisam ser fornecidos aos animais através da alimentação e cada espécie tem uma exigência específica que precisam ser avaliadas por um profissional.
Reprodução na Piscicultura
A reprodução do pescado pode ocorrer de forma natural ou artificial. Obter taxas reprodutivas altas dentro do sistema dependerá das condições de oxigênio, temperatura, o local que os ovos foram lançados, presença de predadores ou alimento disponível. Contudo, a maturação sexual nos peixes depende da espécie, assim como condições do ambiente e pode ocorrer do 7° ao 12° mês, ou somente do 2° ao 3° ano de vida.
A reprodução natural ocorre em ambiente natural onde os peixes lançam gametas na água e a taxa de fertilização é considerada baixa quando realizada dessa maneira.
A reprodução artificial exige a influência humana no processo, afim de produzir ovos, larvas e alevinos para a criação.
Peixes aptos para reprodução são escolhidos durante a desova. São retirados os óvulos e esperma. Todavia, esses são unidos de forma artificial, fertilizando a ova. Após o processo, os ovos que foram fertilizados são incubados até virarem larva e alevino.
Ovos incubados na boca de tilápia
Principais espécies criadas no Brasil
Existem várias espécies de peixes que podem ser utilizados na Piscicultura. Neste artigo abordaremos as principais espécies utilizadas nos criatórios brasileiros.
Os peixes considerados tropicais apresentam um alto padrão de desenvolvimento e essa característica é melhor expressa quando criados em águas onde a temperatura varia entre 22°C a 30°C., No entanto, a espécie mais conhecida em bacias hídricas no país desse grupo é a Tilápia, um peixe de água doce, de origem Africana e herbívoro. Inicia-se a produção com 15 a 20 cm de comprimento e as fêmeas produzem de 5.000 a 6.000 óvulos.
Tilápia - espécie de origem africana
A Carpa, peixe de origem asiática, também está inserida no grupo de peixes tropicais. São animais rústicas e de fácil criação e se alimentam de zooplacton, gramas e capins.
O Pacu considerado um peixe nativo, seu peso pode chegar a 20kg na fase adulta. Muito utilizado em cruzamentos com a espécie tambaqui, apresenta alimentação onívora e reprodução na época das chuvas.
O Tambaqui nativo da Amazônia, apresenta boa aceitação dos consumidores pelo sabor agradável da carne. Animal rústico, se desenvolve rápido e é onívoro.
Tambaquii - espécie amazônica
O Piau é considerado um dos peixes mais comuns encontrado em águas brasileiras, se alimenta de vegetais e insetos e encontra-se no mercado em feiras populares ou para subsistência.
Já os peixes cultivados em temperaturas baixas, no Brasil, a espécie mais conhecida é a Truta. Originária dos EUA e é considerado um peixe nobre.
Truta - orignária dos EUA e se desenvolvem em águas geladas
Referências:
Associação Brasileira da Piscicultura
Técnico em agropecuária: piscicultura/ Jackelline Cristina Ost Lopes.-Floriano: EDUFPI, 2012.
Luisa Duarte Rabello
Médica Veterinária formada pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. CRMV/RJ 17985.
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