O que é mastite bovina, quais seus riscos e como tratar?

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O que é mastite?

A mastite bovina nada mais é do que uma inflamação quelacomete a glândula mamária das vacas. É uma doença que afeta a sanidade dos animais, portanto, é considerada a maior causa de prejuízos econômicos nos rebanhos leiteiros no Brasil. Quando a mastite é detectada, observa-se grandes perdas na cadeia de produção sendo possível afetar de forma direta a qualidade final do leite e de seus derivados. Embora, quando se estabelece um diagnóstico precoce em conjunto com um tratamento eficaz, torna-se possível a recuperação total da saúde do úbere das vacas acometidas. Todavia, é fundamental que medidas de prevenção eficazes sejam adotadas pelo pecuarista para evitar que a mastite bovina atinja os animais do seu rebanho.

Sendo assim, o ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) disponibiliza normas técnicas através do regulamento da inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal (RIISPOA) e de Instruções normativas (Ins 76 e 77) com o objetivo de realizar uma padronização da qualidade do leite e seus derivados, onde torna-se possível atender o consumidor com um produto final de qualidade na indústria, oriundos de uma produção leiteira saudável, que garanta principalmente o bem-estar do animal econsequentemente, sucesso e ganhos econômicos significativos para o produtor.

Como ocorre a mastite bovina?

Todavia, antes de mais nada, é preciso entender como a mastite bovina se estabelece. Sabe-se, no entanto, que a doença pode ocorrer através de lesões presentes no úbere, agressores químicos ou presença de microrganismos como bactérias, fungos, algas ou até mesmo leveduras, que ascendem através do ducto do teto. Portanto, quando isso ocorre, respostas inflamatórias teciduais irão acontecer devido a presença de células de defesa no sistema imune do animal que tentarão conter a inflamação que estará ocorrendo dentro do úbere. Os leucócitos (células de defesa do animal) junto com as células de descamação epitelial da glândula mamária, são representadas pelas células somáticas (CCS). Sendo assim, a contagem dessas células (que passam do sangue para o leite, durante a inflamação) estarão com o nível muito elevado em leites das vacas que apresentam a mastite, principalmente a da forma clínica. Por isso, vamos entender a diferença entre as formas de mastite e tudo o é mais importante sobre a doença

Neste artigo, o mercado rural irá abordar os seguintes tópicos:

• Quais os tipos de mastite e principais causas; • Como identificar a mastite no seu rebanho e quais as implicações na produção final do leite; • Como prevenir e tratar.

Tipos de mastite e principais causas:

Mastite Clínica

Os animais acometidos pela mastite clínica apresentam sinais clínicos bastante característicos da doença. Esses sinais podem ser observados pelo produtor e podem se apresentar da seguinte forma:

  • Edema (inchaço);
  • Aumento de temperatura no úbere;
  • Vermelhidão nos tetos;
  • Dor e aumento da sensibilidade no úbere;
  • Endurecimento dos quartos mamários;
  • Presença de coágulos, pus e grumos no leite;
  • Alteração na cor do leite;
  • Fibrose do teto;
  • Perda de função;
  • Apatia;
  • Prostração;
  • Desidratação;
  • Redução do apetite;
  • Anorexia;
  • Em casos graves: óbito dos animais acometidos.

Contudo, alguns estudos sugerem que a mastite clínica pode ser classificada em aguda, subaguda, superaguda, crônica e gangrenosa. Nos casos superagudos, os animais apresentam uma inflamação intensa, embora em quadros agudos os sinais da doença ocorrem de forma mais leve. No entanto, nos casos subagudos, não se observa sinais de inflamação, porém, é possível visualizar no leite os grumos, através do teste de caneca de fundo preto. Já nos casos crônicos, a inflamação persiste por meses a anos e pode haver perda de função dos quartos mamários inflamados. Na forma gangrenosa, o úbere muda de coloração e ocorre perda da sensibilidade. A mastite clínica representa 30% de perdas econômicas na produção leiteira.

Mastite Subclínica

A principal diferença da mastite subclínica está relacionada com a sua não apresentação dos sinais clínicos característicos de uma doença inflamatória no rebanho, sendo assim, é considera uma forma de difícil diagnóstico, capaz de atingir um número maior de vacas e que pode acometer de 20 a 50% dos animais lactantes dentro da criação, índices muito maiores quando comparados a mastite clínica. Dessa forma, os bovinos são mantidos no rebanho por não apresentarem nenhum sintoma de que estejam doentes e isso acarreta em grandes perdas econômicas para o produtor, pois reflete no desempenho dos animais com relação a produção, afetando a qualidade do leite ocasionado pelo aumento das células somáticas (CCS), além de alterações em componentes do leite, como: caseína, cálcio, gordura e lactose, o que faz com que ocorra uma desvalorização no valor do litro do leite e menor rendimento de seus derivados. Contudo, alguns estudos sugerem que para cada caso de mastite clínica, possa existir de 15 a 40 animais com a forma subclínica.

Mastite contagiosa

Essa classificação ocorre devido ao tipo do reservatório do patógeno. A mastite do tipo contagiosa vai ocorrer pela presença de micro-organismos na glândula mamária, conhecidos como patógenos oportunistas que se encontram presentes na pele da glândula ou nos tetos e infectam o animal quando houver oportunidade. Esses patógenos são transmitidos através da ordenha, por má conduta higiênica do ordenador ou por teteiras mal higienizadas. A mastite contagiosa tem como característica o desenvolvimento da forma subclínica da doença. Os micro-organismos mais comuns encontrados nesse tipo de mastite são o Staphylococus agalactie e o S. aureus, sendo este último o de maior importância e principal causador da doença.

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Mastite ambiental

Na mastite ambiental a contaminação ocorre pela presença dos patógenos no ambiente. Os micro-organismos encontram-se nas camas e em ambientes sujos, com presença do acúmulo de urina e fezes. Dessa forma, logo após a ordenha, no momento que a vaca deita nesses ambientes que carecem de um bom manejo sanitário, pois com o esfíncter do teto ainda aberto devido a pressão interna que a produção elevada de leite no periparto ocasiona e também pela própria prática de ordenha, onde o esfíncter encontra-se aberto por pelo menos 2 horas após a manipulação pois ocorre a retirada da queratina que o mantém fechado, a contaminação torna-se possível pois facilita a ascensão de microrganismos através do canal do teto. Quadros de mastite clínica nesse caso, são os mais observados.

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Animal deitado em ambiente em condições higiênicas precárias.

Como identificar a mastite no seu rebanho e quais as implicações na produção final do leite:

A mastite clínica é a forma mais fácil de ser identificada pelo produtor, pela apresentação dos sinais clínicos da doença no rebanho. Contudo, o diagnóstico precoce é muito importante para o sucesso do tratamento e para evitar perdas maiores na produção. Por isso, torna-se imprescindível a visita de um médico veterinário para que os animais sejam avaliados por um profissional capacitado.

Avalia-se, nos animais com mastite clínica, todos os sinais da inflamação no úbere assim como avaliação do conteúdo do leite. São realizados os testes de caneca de fundo preto, onde é possível observar grumos ou sangue no leite, esse teste deve ser feito no rebanho sempre antes de cada ordenha.

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Teste de caneca do fundo preto.

Com relação a mastite subclínica, onde sinais clínicos não são observados, são realizados testes que avaliam as características do leite e a presença das CCS, muito importante na detecção da presença de mastite subclínica. Para isso, é realizado o Californian Mastitis Test (CMT), esse exame precisa ser incluído na rotina da fazenda para um controle de mastite eficaz no rebanho. Esse teste consiste na ação de um detergente que leva a formação de gel, onde quanto mais CCS houver, mais viscoso ficará o gel, identificando uma inflamação. Esse exame pode ser feito tanto no animal separado, quanto de uma amostra do tanque de leite.

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Teste CMT.

Outro exame importante, é o de cultura microbiológica e antibiograma que auxilia o médico veterinário na escolha do melhor tratamento dos animais acometidos com mastite, escolhendo os melhores antibióticos, conferindo menor chances de erro no tratamento ou resistência do microrganismo.

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Antibiograma.

O leite é considera um alimento importante quando levado em consideração a sua composição, sendo possível adquirir proteínas, vitaminas e sais minerais, através de seu consumo. É imprescindível que um padrão de produção na pecuária leiteira seja seguido (através de normativas e leis existentes) pois doenças como a mastite, implicam diretamente sobre a qualidade do leite e seus derivados, oferecendo riscos à saúde para os consumidores finais do produto.

Como prevenir e como tratar a mastite?

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A prevenção da mastite torna-se possível através da inserção de um controle de profilaxia na rotina da fazenda. Com o auxílio de um médico veterinário capacitado e com a adoção de treinamentos específicos, o produtor consegue aplicar o programa de controle da mastite bovina em seu rebanho leiteiro. Segue abaixo as principais etapas inseridas nesse programa:

1- Rotina de ordenha e desinfecção dos tetos (pré e pós dipping); 2- Tratamento dos animais com mastite clínica no período de lactação, realizando a ordenha dos animais doentes por último e aplicação de antibiótico intramamário; 3- Uso de antibiótico de secagem em todos os animais, ao final do período de lactação (terapia da vaca seca); 4- Higienização, manutenção e funcionamento de equipamentos de ordenha; 5- Identificar, separar e descartar os animais com casos crônicos de mastite; 6- Manejo do ambiente proporcionando um local limpo para os animais. Uma boa estratégia é oferecer alimento após a ordenha com o objetivo de manter a vaca de pé, impedindo que ela se deite no chão com o esfíncter dos tetos ainda aberto;

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O tratamento da mastite bovina dependerá da causa, forma, quais patógenos presentes na inflamação e qual o nível da gravidade e comprometimento sistêmico do animal. O médico veterinário após detectar a mastite através de testes e exames por meio de coleta de amostras, irá aplicar um protocolo de tratamento adequado, com o uso de antibióticos específicos, anti-inflamatórios e qualquer terapia complementar que seja importante para o tratamento. No entanto, a informação mais importante acerca do tratamento é a de que não é recomendo o uso de antibióticos ou outros medicamentos sem orientação de um profissional. Essa prática dificulta a eficácia do tratamento fazendo com que os microrganismos criem resistência no organismo do animal, o que impossibilita o sucesso da terapia, tornando um processo longo (meses a anos) e não responsivo as medicações, podendo levar a quadros crônicos e a perda do animal. Sem dúvidas, a melhor solução para evitar o risco de contaminação é adquirir práticas sanitárias e realizar todas as etapas de monitoramento e profilaxia para mastite na sua propriedade.

Referências

Coser, S. M., Lopes, M. A., & Costa, G. M. (2012). Mastite bovina: controle e prevenção. Boletim Técnico, 93, 1-30.

Sbardelotto, E. M., Oliveira, R. L., & Diefenbach, C. V. V. (2019). Práticas para melhorias da qualidade e higiene do leite. IV SerTão Aplicado-Mostra de Ensino, Pesquisa e Extensão.

Schvarz, D. W., & Santos, J. M. G. (2012). Mastite bovina em rebanhos leiteiros: Ocorrência e métodos de controle e prevenção. Revista Em Agronegócio e Meio Ambiente, 5(3), 453-473.

Santos, W. B. R.. Mastite bovina: uma revisão. Colloquium Agrariae, São Paulo, v. 13, n. , p. 301-314, 2017. Semestral.

Rural Pecuária. (2016). Ordenha - Teste da caneca de fundo preto.

Peres Neto, Floriano. Mastite em vacas leiteiras- revisão de literatura. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária, Garça, n. 16, p. 1-28, jan. 2011. Semestral.

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Luisa Duarte Rabello

Médica Veterinária formada pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. CRMV/RJ 17985.

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