O que é leite A2
O leite e seus derivados apresentam altos teores nutricionais, por isso, são importantes fontes de alimento apresentando proteínas, minerais, vitaminas, lipídios e outros compostos importantes para o crescimento e desenvolvimento do ser humano.
Segundo o ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), o Brasil alcançou a terceira posição entre os maiores países produtores de leite com mais de um milhão de propriedades exercendo a atividade, empregando cerca de 4 milhões de pessoas e chegando a produzir mais de 34 bilhões de litros de leite por ano.
Contudo, a partir de projeções realizadas pela secretaria de política agrícola, espera-se que em 2030 somente irão continuar com a produção ativa os produtores que se adaptarem ao uso de tecnologias avançadas e que buscarem melhorias na gestão de propriedade, assim como apresentarem maior eficiência técnica e econômica.
Nos dias atuais, o mercado consumidor se mostra mais exigente, buscando por melhorias nos produtos lácteos ofertados. Mas pode-se observar que algumas pessoas desenvolveram desconfortos gástricos, principalmente com a ingestão do leite e seus derivados. Visando a necessidade de um leite no mercado que seja capaz de não provocar essa indigestão em indivíduos alérgicos a proteína do leite, alguns produtores investiram em técnicas de melhoramento genético aliadas ao uso de tecnologias avançadas dentro de suas criações e desenvolveram o leite do tipo A2A2, uma nova alternativa além do leite comum que já conhecemos.
O que é leite A2
O leite é considerado a principal fonte de cálcio quando pensamos na dieta humana. Ele apresenta 13% de componentes sólidos divididos por 3,3% a 3,5% de proteínas totais, 3,5 a 3,8% de gordura, 4,9% de lactose, 0,7% de minerais e vitaminas. Além disso, as proteínas presentes no leite foram divididas em duas categorias:
- Proteínas do soro do leite, que são as alfa-lactalbumina e beta-lactoglobulina;
- Proteínas caseínas, que são a alfa-s2, kappa e as betas caseínas.
O grupo da beta caseínas representam 30% das proteínas total e podem apresentar 13 variações, sendo a A1 (histidina) e A2 (prolina) as mais estudadas geneticamente entre as raças de gado leiteiro e se diferenciam pela mudança de um nucleotídeo na posição 67 da cadeia de aminoácidos.
Qual a diferença entre as caseínas A1 e A2
A variação A1 se transforma no intestino em beta-casomorfina 7 (BCM-7) que acarreta em distúrbios gastrointestinais em pessoas alérgicas a proteína do leite de vaca (APLV), pois é descrita como fator oxidante para o desenvolvimento da mesma. Essa BCM-7 é liberada após ocorrer uma hidrólise enzimática através de enzimas presentes no sistema gastrointestinal.
Já o leite que apresenta somente o alelo A2 é adquirido de vacas com genético A2A2 para proteína betacaseína. No passado, os bovinos tinham apenas esse tipo de alelo, contudo, devido ao passar do tempo com a realizações de cruzamentos entre as espécies que levaram a mutações e consequentemente o surgimento do alelo A1. Após o consumo do leite produzido por animais que apenas apresentam a variação A2 não foi possível observar a produção do BCM-7, ou seja, essa variante torna-se um produto de melhor digestão para os indivíduos que são alérgicos ao alelo A1.
É importante mencionar sobre a existência de alguns estudos que sugerem que o leite A2 seja considero um produto hipoalergênico. De certa forma, para os indivíduos alérgicos a proteína A1 somente, ele pode ser ingerido com mais segurança pois certamente não irá causar reações alérgicas nem os desconfortos intestinais. Por outro lado, deve-se ter cuidado e atenção redobrada dos indivíduos alérgicos a proteína do leite no contexto geral, sem que tenha certeza de que se trata somente da alergia provocada pela beta caseína A1. Normalmente esse problema é provocado pelo envolvimento de mais de um tipo de proteína, então uma orientação médica é fundamental antes de inserir o produto na dieta.
Grandes indústrias do exterior já comercializam em larga escala o leite e seus derivados do tipo A2, embora no Brasil ainda é produzido em baixa escala por algumas empresas do setor lácteo atendendo mais a uma demanda regional. No entanto, alguns produtores acreditam no potencial do produto e que em breve estarão disponíveis nas prateleiras dos supermercados de todo país.
O leite A2 tem proteína?
Sim, o leite A2 apresenta proteínas importantes e em mesma quantidade que o leite de vaca comum. Cerca de 80% é composto pelas caseínas, que são conhecidas como proteínas do leite e apresentam 20% de proteínas do soro. O que diferencia o leite A2 do A1 com relação a proteínas é o seu tipo, onde no A2 é observado somente esse alelo enquanto no leite A1, pode ser observado os dois tipos. Principais proteínas encontradas tanto no leite A2 quanto no A1:
- Caseína;
- αs2;
- αs1;
- β;
- K;
- Proteínas do soro;
- β-lactoglobulina;
- α-lactalbumina;
- Albumina sérica;
- Imunoglobulinas;
- Lactoferrina;
- Proteína da membrana dos glóbulos de gordura.
Qual a diferença entre Alergia a proteína do leite de vaca e intolerância à lactose?
Intolerância à lactose
Segundo dados obtidos da Biblioteca virtual em Saúde do ministério da saúde, a intolerância à lactose se caracteriza pela incapacidade do indivíduo de digerir a lactose (que é o açúcar do leite) pela não presença ou a presença em quantidade insuficiente da enzima lactase no intestino dos indivíduos intolerantes. Sendo assim, não ocorre a quebra da lactose e ela não é digerida de forma correta. Com isso, o número de lactose que chega no intestino grosso torna-se muito grande e as bactérias que ali vivem fermentam em grandes quantidades e a produção de ácidos graxos, ácido láctico e gases também se torna acentuada. A partir disso que é possível observar todos os sintomas clínicos sugestivos de uma intolerância à lactose. É importante salientar que a lactose é um carboidrato que apresenta uma molécula de glicose e outra de galactose, contudo, não existe alergia à lactose.
As principais causas da intolerância à lactose estão relacionadas a uma deficiência congênita da enzima, diminuição na produção da lactase devido a doenças intestinais presentes ou uma deficiência primária onde com o envelhecimento, acontece a diminuição da produção da enzima.
Os sintomas clínicos mais comuns encontrados em indivíduos com intolerância são: náuseas, dores abdominais, diarreia, gases e desconforto.
O consumo de alguns alimentos como: leite de vaca, queijos, manteiga, requeijão e qualquer produto que contenha na sua preparação o leite, assim como biscoitos, são estritamente proibidos em pessoas com intolerância à lactose. Importante procurar ajuda médica em casos de desconforto abdominal com a ingestão de qualquer produto de origem animal.
Alergia a proteína do leite de vaca
Considerada um alergia alimentar mais comum em crianças de até 24 meses, a APLV ocorre devido a uma reação anormal do sistema de defesa imune contra proteínas do leite, entre elas, as beta caseínas do tipo A1. Essa alergia normalmente não permanece até a idade adulta do indivíduo e é mais comum ser observado que grande parte dos casos são solucionados dos 2 aos 4 anos de vida.
Alguns sintomas apresentados em indivíduos com APLV:
- Urticárias, dermatite atópica, coceira na pele;
- Dificuldade para engolir, refluxo, vômitos, cólicas intensas, diarreia, sangue nas fezes;
- Obstrução nasal, chiado, respiração difícil, tosse seca;
- Baixo ganho de peso e atraso no crescimento e desenvolvimento.
Estudos mostram que 90% das crianças alérgicas à proteína do leite de vaca, apresentam reações alérgicas semelhantes aos leites oriundos de ovelhas ou cabras. Para diagnosticar a doença, é necessário procurar um médico especialista em alergias que vai solicitar exames laboratoriais e específicos para detecção.
Como produzir Leite A2 e como anda a produção no Brasil
Através do cruzamento e seleção genética no rebanho é possível produzir leite do tipo A2. Portanto, animais que têm o genótipo do tipo A1A1, apresentará o leite apenas com o alelo A1. Já os bovinos com genótipo A1A2 produzem os dois e os com genótipo A2A2 terão somente a proteína A2 presente. Para descobrir quais animais da propriedade apresentam o genótipo A2A2 torna-se necessário realizar a genotipagem do rebanho.
No país atualmente já existem propriedades leiteiras com certificação A2A2 e algumas marcas já circulam no mercado para quem deseja adquirir o produto. Contudo, trata-se de um mercado promissor e em crescente expansão, com isso, alguns criadores brasileiros estão dando início aos investimentos em melhoramento genético afim de obter maior valor agregado do seu produto no mercado.
Raças bovinas e a prevalência do alelo A2
Alguns estudos mostram que somente os bovinos da raça Guernsey apresentam a produção de leite A2 em 100% dos seus animais. Contudo, essa raça não é comumente encontrada no Brasil. No país, as raças zebuínas apresentam entre 89 a 100% do alelo positivo para A2, o que representa grande importância econômica aos criadores, dando destaque a raça Gir que já apresenta um ótimo valor agregado do leite devido a sua composição e a frequência do alelo A2 foi de 98%. Na raça Guzerá foi de 97%.
As raças taurinas apresentaram de 43 a 50% do alelo A2 na raça holandesa, 65% na raça Holandês Frisian e 63% na raça Caracu. Sendo assim, espera-se que no futuro em função do melhoramento do rebanho especializado, a produção do leite A2 será muito maior.
Referências:
Observatório da saúde da criança e adolescente
Revista Sinapse Múltipla V.10, n.1, p.114-116, jan.jul. 2021.PUC Minas Betim.
Luisa Duarte Rabello
Médica Veterinária formada pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. CRMV/RJ 17985.
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