O que é a antracnose, quais culturas atinge e como tratar a doença

A antracnose é uma doença causada por fungos do gênero Colletotrichum, que causa danos não só as folhas, mas em diferentes partes de várias espécies de plantas. Como se não bastasse, mesmo após a colheita pode haver infecção por esta praga. A frequência de chuvas e o clima quente favorecem a disseminação e a infecção, que costuma aparecer em lavouras ― como de soja Trigo, milho, sorgo, feijão, tomate, pimentão (e pimentas em geral), berinjela e morango ―, pomares ― em especial, de banana, mamão, maracujá e maçã ― e até em florestas e plantas ornamentais.

Plantas fracas, com carência de nutrientes como potássio e cálcio, são muito vulneráveis à antracnose. Se as raízes estiverem frágeis, favorecem as condições para proliferação do fungo também nas mesmas. Nessas duas situações, o espalhamento da doença é rápido, principalmente se existir muita matéria orgânica próxima à plantação e a ventilação for reduzida.

Normalmente, a contaminação ocorre no processo de irrigação e/ou também com a chuva. Porém, não é simples identificar a origem da contaminação, já que ela também permanece em plantas mortas e frutos caídos. Então, o melhor manejo é saber identificar e manter os cuidados para assegurar o controle máximo da proliferação dessa praga.

A contaminação por antracnose tem grande importância econômica para as culturas de grãos, por causar perdas quantitativas (diminuição da produção) e qualitativas (qualidade), como manchas nos grãos e também nas sementes, o que diminui o valor de comercialização do produto.

Nos últimos anos, essa doença vem ganhando força em culturas em que ela era considerada segundaria, como na soja, onde hoje é considerada em algumas regiões a segunda doença mais importante.

Desenvolvimento da doença

Para a ocorrência da antracnose é necessário que seja formado o chamado “triângulo da doença”, sendo necessário a presença do patógeno, um hospedeiro suscetível e o ambiente favorável.

As condições favoráveis para o desenvolvimento da doença são:

  • Alta umidade
  • E temperatura moderada a alta.

Condições que são favorecidas com altas populações de plantas, uma vez que plantios muito adensados proporciona alta umidade.

O inóculo inicial pode ser oriundo da semente ou restos culturais contaminados.

A chuva, irrigação e o vento ajudam na disseminação de esporos presentes em tecidos já infectados.

O patógeno pode sobreviver em sementes, restos culturais e hospedeiros alternativos (outras plantas que são hospedeiras do fungo e estão presentes na lavoura). O cuidado com restos vegetais é fator de manejo muito importante.

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Figura: Fatores que influenciam a ocorrência da Antracnose - Triângulo da Doença

A antracnose na cultura de grãos

A entrada do fungo na área da lavoura ocorre, geralmente, por sementes infectadas, sendo que plântulas originadas de sementes infectadas se tornam uma fonte de disseminação da doença na lavoura.

Além disso, o fungo pode reduzir a germinação das sementes infectadas.

Já a manutenção do inóculo (patógeno) na área ocorre preferencialmente por restos de culturas e por hospedeiros alternativos.

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Ciclo da antracnose na cultura do milho; fungo pode ser originado de semente infectada

É importante entender as formas de sobrevivência do fungo para determinar as medidas de manejo. O patógeno pode sobreviver na área por um longo período, de uma safra para outra. Por isso, é muito importante impedir a entrada do patógeno na sua lavoura.

Além disso, é importante ficar atento às condições favoráveis para a ocorrência da doença na sua área.

As condições favoráveis para a antracnose variam de temperatura moderada a alta e alta umidade.

Lembrando que plantios muito adensados podem propiciar alta umidade nas plantas e, dependendo das condições climáticas (temperaturas moderadas a altas), podem favorecer a ocorrência da doença na sua plantação.

1. Antracnose na soja

Na soja, a antracnose é umas das principais doenças, causada principalmente pelo fungo Colletotrichum dematium.

A doença afeta todas as fases de desenvolvimento da soja, desde o estabelecimento da lavoura até o enchimento de grãos.

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Períodos de ocorrência da Antracnose da Soja

1.2 Sintomas

Os principais sintomas desta doença, especialmente sob condições de alta umidade, são manchas castanho-escuras e negras sobre as folhas, pecíolos, hastes e vagens (Figura 1). Além disso, as sementes são veículos de transmissão desta doença, podendo afetar a qualidade fisiológica das mesmas (redução da germinação e vigor).

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Figura 1. Manchas castanho-escuras e negras sobre as folhas, pecíolos, hastes e vagens

O ataque no estádio de plântulas pode levar ao tombamento, reduzindo o número de plantas por área. Quando a infecção ocorre antes da floração ou do enchimento de grãos, esta provoca a perda de folhas e o abortamento das vagens. Sob condições de chuvas prolongadas, pode ocorrer a perda total da produção. Com maior frequência causa alta redução do número de vagens e induz a planta à retenção foliar e haste verde.

Nas folhas os principais sintomas ocorrem nos pecíolos, apresentando-se como manchas aquosas no início e evoluindo para manchas circulares ou elípticas negras (Figura 2). Nas hastes, os sintomas são semelhantes aos das vagens e nos grãos, podem aparecer manchas castanho-escuras.

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Figura 2. Manchas aquosas no início e evoluindo para manchas circulares ou elípticas negras. Nas hastes, os sintomas são semelhantes aos das vagens e nos grãos, podem aparecer manchas castanho-escuras.

Nas vagens surgem manchas aquosas no início, aumentando de tamanho e tornando-se negras, causando o apodrecimento, queda e abertura das vagens (Figura 3).

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Figura 3. Manchas aquosas no início, aumentando de tamanho e tornando-se negras, causando o apodrecimento, queda e abertura das vagens.

1.3 Manejo e Controle da antracnose na soja

A primeira medida para o controle da doença é o uso de sementes limpas e livres do patógeno, produzidas em áreas livres da doença.

As sementes devem ser tratadas com fungicidas para reduzir os riscos de introdução do patógeno no campo por sementes infectadas ou contaminadas superficialmente. Nos campos contaminados, deve-se realizar rotação de culturas e adubação com adequados teores de potássio.

O tratamento de sementes com fungicidas é uma prática que tem sido recomendada para o controle de fungos associados às sementes de soja, visando a melhorar seu desempenho e originando plantas mais vigorosas e sadias.

Reduções significativas na incidência deste patógeno em sementes de soja são obtidas com o uso de produtos químicos recomendados.

Em consequência do controle deste patógeno, verificam-se aumentos significativos no desempenho de sementes de soja bem como acréscimo de produtividade.

Através do Tratamento de Sementes Industrial (TSI), existem hoje produtos registrados e comprovadamente eficientes para o controle desta doença, protegendo as sementes e plântulas nas fases iniciais de desenvolvimento, proporcionando uma germinação e estande mais uniformes.

Mesmo a recomendação oficial de controle não trata do uso de cultivares resistentes, preferindo métodos culturais como:

  • A rotação de culturas;
  • Manejo do solo e adubação potássica balanceada;
  • Maiores espaçamentos;
  • E menor densidade de plantas.

Apesar dos esforços na obtenção de cultivares resistentes, ainda não se pode abrir mão da proteção química com aplicação de fungicidas na parte aérea para o controle das doenças.

Pesquisas têm sido realizadas na tentativa de buscar produtos que ativam mecanismos de defesa da planta, propiciando mais uma alternativa de controle.

  • Experimentalmente, foi observada a eficiência de controle com alguns fungicidas do grupo dos benzimidazóis isoladamente ou em mistura com triazóis (Embrapa, 2010).

Existem vários produtos registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para controle da Antracnose através de aplicações aéreas na soja. A grande maioria tem como ingrediente ativo, carbendazim/benzimidazol ou tiofanato. Mas existem listas de produtos registrados para esse alvo, nesta cultura, e sempre deve-se fazer o manejo adequado e com orientação de profissionais da engenharia agronômica.

2. Antracnose no milho

A antracnose no milho é causada pelo fungo Colletotrichum graminicola, que pode atacar folhas e os colmos.

Essa doença é favorecida pela falta de rotação de culturas, ou seja, plantio de milho após milho.

A doença pode causar acamamento e quebramento de plantas, baixo rendimento operacional da colheita e redução do potencial produtivo e qualidade dos grãos.

Os sintomas observados no colmo são manchas escuras ao longo da parte externa do colmo e descoloração interne dos nós.

Já nas folhas, os sintomas da antracnose são lesões necróticas de coloração castanha, que acompanham as estrias foliares.

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Lesões na folha de milho

A antracnose, provocada pelo fungo Colletotrichum graminicola, pode reduzir a produção do milho em até 40% quando utilizadas cultivares suscetíveis e as condições de umidade forem favoráveis à enfermidade.

O emprego de materiais geneticamente resistentes à doença é uma das principais estratégias para o correto manejo.

Nas últimas safras, as doenças têm sido um dos grandes problemas enfrentados por parte dos técnicos e produtores envolvidos no agronegócio do milho. Relatos de perdas na produtividade devido ao ataque de patógenos têm sido frequentes nas principais regiões produtoras do país.

A antracnose pode reduzir a produção do milho em até 40% em cultivares suscetíveis sob condições favoráveis de ambiente. Um fator complicador relacionado à ocorrência da antracnose é a inexperiência por parte da maioria dos técnicos em reconhecer os sintomas dessa enfermidade no campo, permitindo que ela ocorra em elevadas severidades, resultando em perdas significativas à cultura.

O fungo C. graminicola é capaz de infectar praticamente todas as partes da planta.

2.1 Sintomas

Nas folhas os sintomas típicos da antracnose são observados em plantas nos primeiros estágios vegetativos.

Ossintomas são caracterizados por:

  • Lesões de coloração marrom-escura e formato oval a irregular, o que torna, às vezes, difícil seu diagnóstico. Tipicamente, um halo amarelado circunda a área doente das folhas. Sob condições favoráveis as lesões podem coalescer necrosando grande parte do limbo foliar e surgem, no interior das lesões, pontuações escuras que correspondem às estruturas de frutificação do patógeno, denominados acérvulos (Figura 1).
  • Nas nervuras são observadas lesões elípticas de coloração marrom-avermelhada que resultam em necrose foliar em formato de “V” invertido (Figura 2). Esses sintomas são geralmente confundidos com os sintomas de deficiência de nitrogênio.
  • A fase de podridão do colmo é caracterizada pela formação, na casca, de lesões encharcadas, estreitas, elípticas na vertical ou ovais. Posteriormente, essas lesões tornam-se marrom-avermelhadas e, finalmente, marrom-escuras a negras (Figura 4).
  • As lesões podem coalescer, formando extensas áreas necrosadas de coloração escura-brilhante. O tecido interno do colmo apresenta, de forma contínua e uniforme, coloração marrom-escura podendo se desintegrar, levando a planta à morte prematura e ao acamamento (Figuras 4 e 5).
  • A fase de podridão de colmo da antracnose é reconhecidamente uma das mais importantes para a cultura do milho. As podridões do colmo na cultura do milho podem ocorrer antes da fase de enchimento dos grãos, em plantas jovens e vigorosas, ou após a maturação fisiológica dos grãos, em plantas senescentes. No primeiro caso as perdas se devem à morte prematura das plantas com efeitos negativos no tamanho e no peso dos grãos, como consequência da redução na absorção de água e nutrientes. No segundo caso, as perdas na produção se devem ao tombamento das plantas, o que dificulta a colheita mecânica e expõe as espigas à ação de roedores e ao apodrecimento, pelo contato com o solo. O tombamento das plantas é função do peso e altura da espiga, da quantidade do colmo apodrecida, da dureza da casca e da ocorrência de ventos.

A taxa de aumento da doença é uma função da quantidade inicial de inóculo presente nos restos de cultura, o que indica a importância do plantio direto e plantio em sucessão para o aumento do potencial de inóculo. Outro fator a influir na quantidade de doença é a taxa de reprodução do patógeno, que vai depender das condições ambientais a da própria raça do patógeno presente. Temperaturas elevadas (28ºC a 30oC), alta umidade relativa do ar e chuvas frequentes favorecem o desenvolvimento da doença, muitas vezes, suficiente para o controle da doença.

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Figura 1 - Sintomas da antracnose foliar em plantas jovens de milho

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Figura 2 - Sintomas da antracnose na nervura e queima foliar em formato de “V” invertido em plantas de milho.

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Figura 3 - Sintomas da antracnose do colmo do milho

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Figura 4 - Sintomas da antracnose no tecido interno do colmo

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Figura 5 - Fileira de plantas de milho apresentado sintomas da antracnose do colmo.

2.2 Manejo e Controle da antracnose no milho

O manejo da doença deve começar:

  • Escolha de híbridos que apresentem bom nível de resistência;
  • Uso de adubação equilibrada, principalmente quanto à relação nitrogênio/potássio;
  • Manejo correto de irrigação;
  • Manejo de pragas e plantas daninhas, uso de densidade de plantio recomendada para a região e para as cultivares;
  • Realização do plantio e da colheita em épocas adequadas devem ser consideradas para o manejo dessa enfermidade;
  • Práticas que reduzam o potencial de inóculo do patógeno nos restos de cultura e no solo, como rotação de cultura e/ou de híbridos, são importantes para a diminuição da incidência da doença;

Essas medidas, além de trazerem benefício imediato ao produtor por reduzir o potencial de inóculo dos patógenos presentes na lavoura, contribuem para maior durabilidade e estabilidade da resistência genética presentes nas cultivares comerciais por reduzirem a população de agentes patogênicos;

A mais interessante estratégia de manejo de doenças é a utilização de cultivares geneticamente resistentes, uma vez que o seu uso não exige nenhum custo adicional ao produtor, não causa nenhum tipo de impacto negativo ao meio ambiente, é perfeitamente compatível com outras alternativas de controle e é, muitas vezes, suficiente para o controle da doença.

3. Antracnose no feijão

A antracnose é uma das doenças de maior importância da cultura do feijoeiro, podendo causar perdas de até 100%. E uma doença cosmopolita, ocorrendo em locais de temperatura baixa a moderada e alta umidade. Por este motivo, é mais problemática em regiões de clima temperado e subtropical.

3.1 Sintomas

Podem ser observados em toda parte aérea da planta:

  • Quando a doença afeta plântulas, observam-se lesões pequenas de coloração marrom ou preta nos cotilédones.
  • O hipocótilo pode apresentar lesões alongadas, superficiais ou deprimidas, podendo ocorrer o estrangulamento do hipocótilo e morte da plântula.

No entanto, os sintomas típicos desta doença são:

  • Lesões necróticas de coloração marrom-escura nas nervuras na face inferior da folha.
  • Às vezes estas lesões podem ser vistas na face superior das folhas, quando então uma região clorótica desenvolve-se ao lado das manchas necróticas e as folhas tendem a curvar-se para baixo.
  • Em ataques severos, as lesões estendem-se ao limbo foliar ao redor das áreas afetadas nas nervuras, resultando em necrose de parte do tecido foliar.
  • Lesões produzidas no caule e nos pecíolos são alongadas, escuras e às vezes deprimidas. Nas vagens, são geralmente circulares e deprimidas, de coloração marrom, com os bordos escuros e salientes, circundados por um anel pardo-avermelhado. As lesões nas vagens podem ainda apresentar o centro de coloração mais clara ou rosada, devido à esporulação do fungo. As lesões podem coalescer e cobrir parcialmente as vagens. Sementes infectadas são geralmente descoloridas e podem apresentar lesões levemente deprimidas e de coloração marrom.

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Antracnose em folhas, sementes e vagens de feijão.

3.2 Manejo e Controle da antracnose no feijão

  • O uso de sementes sadias é fundamental no controle da doença.

  • O tratamento de sementes apresenta bons resultados.

  • A produção de sementes em regiões semiáridas é uma medida que tem reduzido a incidência e evitado a disseminação da doença em outros países.

  • A rotação de cultura, por no mínimo 1 ano, deve ser feita para evitar a ocorrência da doença no plantio seguinte e a perpetuação do fungo na área.

  • Restos de cultura infestados devem ser eliminados do campo.

  • O uso de cultivares resistentes é outra medida importante que tem contribuído para reduzir os danos causados pelo patógeno.

No entanto, a grande variabilidade patogênica apresentada por _C. lindemuthianum_dificulta a obtenção de cultivares de resistência durável.

A decisão sobre a aplicação de fungicidas na cultura do feijoeiro deve levar em consideração:

  • O nível tecnológico adotado e a finalidade do campo;
  • O potencial de produção da lavoura;
  • O retorno econômico;
  • As condições da lavoura no momento da aplicação;
  • A ocorrência de condições climáticas favoráveis à doença.

4. Antracnose no sorgo

A antracnose do sorgo é causada pelo fungo Colletotrichum sublineolum P. Henn., Kabat e Bulbak, correspondente a forma tele mórfica Glomerella graminicola Politis. A espécie C. sublineolum pertence à ordem Melanconiales, que inclui fungos assexuados que produzem os esporos (conídios) em estruturas reprodutivas (conidiomas) denominadas acérvulos. Colletotrichum sublineolum foi descrito pela primeira vez em plantas de milho (Zea mays L.), na Itália, por Cesati em 1852, com o nome de Dicladium graminicolum Ces.

Posteriormente o fungo foi constatado nos Estados Unidos no ano de 1855, e descrito sob o nome de Psilonia apalospora Berk & Curt. Wilson (1914) incluiu 11 espécies que apresentavam conídios falciformes à sinonímia C. graminicola. Outras espécies, como C. cereale Manns e C. lineola Corda, foram incluídas nesse amplo conceito de C. graminicola, com exceção da espécie Colletotrichum falcatum Went, agente causal da podridão-vermelha-da-cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.).

No Brasil, a antracnose do sorgo foi relatada pela primeira vez no Estado de São Paulo, em 1934, e hoje está presente em todas as áreas produtoras, constituindo o principal problema fitossanitário da cultura, por ocasionar severas perdas na produção de grãos e de forragem.

Reduções superiores a 80% na produção de grãos foram constatadas em cultivares suscetíveis, em anos e regiões do Brasil cujas condições são favoráveis ao desenvolvimento e disseminação da doença.

4.1 Ciclo da Doença

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Figura: ciclo da antracnose no sorgo.

4.2 Sintomas

  • A fase foliar da antracnose é mais prevalecente a partir do desenvolvimento da panícula, podendo, entretanto, ocorrer em qualquer estádio de desenvolvimento da planta.

Nesta fase, os sintomas iniciais são caracterizados por pequenas lesões elípticas a circulares, com diâmetro em torno de 5 mm (Figura 1).

Com a evolução das lesões, elas passam a apresentar centros necróticos de coloração palha, com margens avermelhadas, alaranjadas ou castanhas, variando em função da pigmentação do cultivar. No centro das lesões, há formação, em quantidade variável, de acérvulos, a frutificação típica do patógeno, que constituem a principal forma de identificação da doença em condições de campo (Figura 2). A coalescência é observada principalmente sob condições de alta umidade, quando grande parte do limbo foliar apresenta-se tomado por lesões, no centro das quais há formação de grande quantidade de acérvulos (Figura 3). Sob condições de ambiente favoráveis ao desenvolvimento da doença e em cultivares suscetíveis ocorre a seca precoce das plantas (Figura 4).

A infecção na nervura central da folha ocorre de maneira independente da infecção foliar. Nesse caso, os sintomas são caracterizados por lesões elípticas a alongadas, de coloração avermelhada, púrpura ou escura, nas quais podem ser observados os acérvulos do patógeno (Figura 5).

No colmo formam-se cancros, caracterizados pela presença de áreas mais claras circundadas pela pigmentação característica da planta hospedeira, principalmente em plantas adultas.

E na panícula, pode ser a extensão da fase de podridão do colmo. Ocorrem lesões abaixo da epiderme, com aspecto encharcado de coloração cinza a avermelhada.

O que pode ser notado é que panículas de plantas infectadas são menores e amadurecem mais cedo.

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Figura 1. Sintomas iniciais da antracnose foliar do sorgo. Setas apontam detalhes das lesões individuais.

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Figura 2. Esporulação do fungo C. sublineolum em lesões foliares da antracnose do sorgo.

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Figura 3. Coalescência de lesões foliares da antracnose do sorgo.

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Figura 4. Sintoma de seca precoce em plantas de sorgo por causa da elevada severidade da antracnose foliar.

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Figura 5. Detalhe dos sintomas da antracnose na nervura central de folhas de sorgo. (Foto: Flávio Dessaune Tardin).

4.3 Ambiente e Desenvolvimento de Doença

As epidemias da antracnose do sorgo são favorecidas por condições de alta precipitação e umidade relativa, temperaturas moderadas e grande quantidade de inóculo. O máximo desenvolvimento da doença ocorre em temperaturas em torno de 25 ºC, enquanto temperaturas abaixo de 15 ºC e acima de 30 ºC restringem seu desenvolvimento.

Um período mínimo de 24 h de molhamento foliar é necessário para o desenvolvimento da doença, cuja severidade aumenta com o aumento do período de molhamento foliar.

4.4 Manejo e controle da Doença

  • Uso de variedades resistentes

A principal medida de controle da antracnose é a utilização de cultivares geneticamente resistentes (CASELA et al., 1998). Entretanto, o uso da resistência genética é dificultado pela alta variabilidade apresentada pelo patógeno, que pode determinar, muitas vezes, que uma cultivar perca sua resistência pela rápida adaptação de uma nova raça do patógeno (CASELA et al., 1993).

  • Controle Químico

O uso de fungicidas, uma prática incomum neste patossistema até o final da década de 1990, tem se tornado frequente nas principais áreas produtoras de sorgo da região Centro Oeste do Brasil (COSTA et al., 2009). Em função deste novo cenário, a Embrapa Milho e Sorgo tem desenvolvido trabalhos que visam avaliar a eficiência e a viabilidade técnica de uso de fungicidas na cultura do sorgo. Costa et al. (2009) avaliaram a eficiência de vários fungicidas no controle da antracnose foliar, em diferentes doses e número de aplicações. Os produtos avaliados apresentaram eficiência no controle da doença, com destaque para a mistura de Epoxiconazole + Piraclostrobina, a qual resultou em maior eficiência de controle e maior incremento na produção.

  • Sementes sadias;
  • Tratamento de sementes;
  • Rotação de culturas.
  • Outras Medidas de Manejo

Outras práticas culturais, como rotação de culturas e eliminação de restos culturais e hospedeiros alternativos, são importantes por auxiliarem na redução do inóculo primário.

Referências

Tecnologias de produção de soja região central do Brasil 2011. - Londrina: Embrapa Soja: Embrapa Cerrados: Embrapa Agropecuária Oeste, 2010.

PICININI, E.C.; FERNANDES, J.M. Doenças de soja: diagnose, epidemiologia e controle. Passo Fundo: EMBRAPA-CNPT, 1998. 91p.​

Agrolink

Embrapa

CASELA, C. R.; FERREIRA, A. S.; SANTOS, F. G. Associação de virulência de Colletotrichum graminicola à resistência genética em sorgo. Fitopatologia Brasileira, Brasília, v. 23, p. 143- 146, 1998.

CASELA, C. R.; FREDERIKSEN, R. A. Survival of Colletotrichum graminicola sclerotia in sorghum stalk residue. Plant Disease, St. Paul, v. 77, p. 825-827, 1993.

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Henrique Servolo

Engenheiro Agrônomo, Mestre em Fitotecnia e Doutor em Engenharia florestal, todos pela Esalq/USP.

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