Fábrica de Ração - Entenda como funciona e os principais pontos de atenção

A nutrição é um dos pilares do bem-estar animal e a cada dia que passa podemos observar que inúmeros produtores estão investindo cada vez mais nesse setor.

O Brasil é o maior produtor de rações da América Latina e ocupa o terceiro lugar entre os maiores produtores no setor mundialmente.

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Devido ao aumento da tecnologia em todos os setores da criação, os produtores estão percebendo o reflexo do crescimento populacional, ocasionando um aumento do consumo de proteína, o que consequentemente alimenta a procura por avanços nos insumos que são utilizados na criação.

Para a fabricação de rações adequadas para cada tipo de criação é necessário o conhecimento da formulação específica de cada produto, seu destino, a utilização dos melhores equipamentos e, por fim, a qualidade da matéria prima que será utilizada.

É necessário também que haja uma fiscalização para avaliar a qualidade desses alimentos produzidos e alguns cuidados primordiais como, por exemplo, o armazenamento.

O processo de fabricação de rações

É comum que as fábricas de ração sejam instaladas em galpões, com espaço amplo e ventilado. Tendo ideia disso, devemos pensar principalmente no layout da fábrica, ou seja, a disposição de equipamentos de forma que facilite o fluxo de produção.

O processo de fabricação é composto por etapas extremamente importantes que, independentemente do processo, devem ser observadas com atenção. As principais etapas são:

  1. Recebimento da matéria prima
  2. Dosagem ou pesagem da matéria prima
  3. Moagem
  4. Mistura
  5. Peletização
  6. Resfriamento
  7. Armazenamento
  8. Transporte

A nutrição animal é composta por uma cadeia, assim como a fabricação de rações.

Se uma etapa não é concluída de forma correta, não é possível seguir com a produção de boa qualidade, influenciando assim na qualidade do produto final, gerando prejuízo para o fabricante no longo prazo.

Todo fabricante busca produzir uma ração de qualidade e alguns dos seus componentes de grande importância são os aditivos. Os aditivos colaboram com a qualidade na produção da ração, influenciando diretamente no desempenho e necessidades dos animais aos quais será fornecida.

Para garantirmos a qualidade e segurança da ração fabricada, devemos sempre estar atentos e avaliar alguns pontos como:

  • Inspeção do caminhão (para verificar se a matéria prima não sofreu nenhuma alteração até chegar ao seu destino)
  • Ausência de pragas (possíveis insetos e roedores que podem comprometer a qualidade do produto)
  • Especificações do tipo de material
  • Medição do tamanho dos elementos que compõe a ração (granulometria)
  • Coloração

O produtor deve entender que quando uma das etapas não é feita corretamente ou a matéria prima possui uma baixa qualidade, todo o processo é prejudicado, dificultando possivelmente a obtenção das certificações de nutrição animal que são necessárias para a comercialização do produto.

De todas as etapas, três delas necessitam um olhar mais rígido; são elas:

  • Qualidade de mistura
  • Peletização
  • Resfriamento

A qualidade de mistura impacta de forma direta a qualidade da ração que está sendo fabricada. Deve-se observar pontos como: o volume que é adicionado ao misturador durante o processo, o tempo de mistura e a umidade (podem causar fermentação e deterioração do produto). Para avaliar a qualidade da mistura é realizado o teste de homogeneidade.

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Peletização

A peletização é um processo fundamental na fabricação da ração, além de influenciar diretamente no bem-estar e alimentação dos animais que consomem esse produto (independente de serem pets ou animais de produção, como boi e cavalo).

Consiste em transformar em pellets ou grânulos, materiais farelados que são submetidos a tratamentos térmicos e pressão (compressão e moldagem). Foi desenvolvida para diminuir a poeira gerada por outros tipos de ração fareladas, facilitar o fluxo da ração e para melhorar o desempenho dos animais quando comparada a outros tipos, diminuir a ação de contaminantes e evitar desperdícios.

Se não realizada com cuidado e de forma adequada, outros fatores podem influenciar negativamente na peletização, como a formulação da dieta, prensa, tamanho das partículas que serão utilizadas, o processo de resfriamento e secagem.

Qual a diferença entre extrusão e peletização?

Muitos confundem a extrusão com a peletização. A extrusão é um processo continuo no qual a matéria prima, após ser moída e misturada, é forçada até ser comprimida e passar pelo canhão extrusor em que a temperatura pode chegar de 100 até 150°C. Depois o produto irá passar por um molde ou matriz, em um processo que passa por altas temperaturas e pressão, fazendo com que a água não entre em estado de ebulição, gerando os processos de cisalhamento, cozimento e modelamento da ração.

Este processo modifica mais profundamente os ingredientes e a estrutura dos produtos - por exemplo a gelatinização do amido, onde temos destruição de fatores antinutricionais, desnaturação de proteínas e expansão do material devido sua temperatura ser bem elevada.

Ao contrário da peletização, a extrusão procura expansão dos produtos e em consequência o peso do produto acabado é menor, enquanto o peso do produto acabado da peletizada é maior (THAKUR e SAXENA, 2000; GUY, 2002; FELLOWS, 2000; BUTOLO, 2010).

Resfriamento

O resfriamento é um processo de suma importância já que, se não realizado com cuidado, pode prejudicar toda a qualidade do produto final.

O produto que não é bem resfriado pode esfarelar e virar pó, o que causa desperdício e consequentemente traz prejuízo para o fabricante e/ou produtor.

Diversos outros fatores extrínsecos podem prejudicar a segurança e a qualidade da ração, por começar pela equipe de funcionários que devem ter treinamento operacional voltado para este tipo de produção; limpeza ineficiente de equipamentos pode acarretar em contaminação cruzada, não só causando prejuízo, mas também colocando a saúde dos funcionários e dos animais que consomem esse produto.

Por que montar uma fábrica de rações?

Não é nenhuma novidade que o Brasil é um dos maiores produtores de proteína animal e isso exige que a indústria de fabricação de rações deva ter um crescimento proporcional.

Isso mostra que a fabricação de rações é um mercado em ascensão gerando muitas oportunidades em diversos setores. A nutrição animal é um dos pilares do bem-estar e desempenho dos rebanhos e planteis do país, e os produtores estão buscando dietas que potencializem e maximizem seus resultados.

O grande desafio do setor agropecuário é aumentar sua produtividade, em espaços menores, que atendam a demanda populacional em constante crescimento, utilizando e aproveitando os recursos disponíveis de forma o mais sustentável possível.

Através da nutrição animal é possível unir todos esses princípios, utilizando tecnologia no processo de fabricação, reduzindo a perda de nutrientes, produzindo fórmulas mais elaboradas que ofereçam maior palatabilidade para os animais, maior digestibilidade e melhor conversão alimentar.

Devemos ressaltar que falamos da fabricação de rações para pets e para animais de produção. O Instituto Pet Brasil nos trouxe dados que mostraram que este setor tem atravessado crises econômicas mas se apresenta como um investimento de segurança, já que há um crescimento intenso no mercado pet (140 milhões de animais de estimação).

Como montar uma fábrica de ração.

Para montar seu empreendimento é necessário que haja um plano de negócios, onde será descrito no papel tudo que é preciso para o grande começo.

O seu plano de negócios irá definir o perfil dos colaboradores da empresa e seu gestor. Será necessário que verifique as instalações, já que a fabrica deve ter certificações de qualidade para que possa funcionar e exercer sua função.

Todos os equipamentos devem garantir a segurança tanto dos funcionários quanto dos insumos utilizados.

Os pisos devem ser construídos com um material que seja resistente, não tenha lacunas ou espaços, para que não haja contaminação cruzada, possam aguentar os impactos de possíveis maquinários pesados e que sejam facilmente higienizados e drenados, facilitando a limpeza do local.

As janelas devem ser teladas e lacradas de forma que não possibilite a entrada de pragas e ser de fácil manuseio para higienização constante.

Os corrimões, canaletas, teto e paredes devem ser de cores claras e evitar acumulo de sujeira, podendo ser higienizados facilmente.

De acordo com a NR-12, rampas, plataformas, elevadores e equipamentos devem ser acessíveis e de fácil manutenção.

Vestiários, lavatórios e refeitórios devem estar longe de áreas de manipulação de insumos e toda a equipe deve receber treinamento adequado para exercer tal atividade, tendo noções de higiene na linha de produção - já que devem realizar limpeza de maquinário e a higienização e desinfecção do ambiente.

Os funcionários também devem utilizar vestuário adequado, atendendo as normas do RIISPOA (Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal).

O local ainda deve ter boa ventilação, acesso a luz do sol, para economia de energia, e um sistema especifico de captação, tratamento e eliminação de resíduos, aprovado previamente pelo órgão ambiental competente.

O controle de pragas deve ser eficiente e conter data e selo de atividade comprovando que aquele local foi de fato dedetizado.

Selecionar o maquinário de forma criteriosa para adquirir os equipamentos de forma que tenha máximo aproveitamento do local. Questões como capital inicial, disponibilidade de manutenção, espaço e capacidade de produção são avaliados previamente no plano de negócios.

No setor de recebimento de matéria prima, deve-se verificar os transportadores, locais de estocagem de insumos, limpeza e higienização.

Depois, é avaliado o setor de processamento onde estão o sistema de pesagem, misturadores e moinhos.

E por fim, mas não menos importante, o setor de expedição, que é o local que as rações produzidas ficam armazenadas até que sejam transportadas ao seu destino final.

Todos os setores devem ser regularizados e estarem de acordo com as normas do RIISPOA e conter os selos de certificações que garantem a qualidade da fabricação. Existem diversas certificações que garantem a qualidade do produto, mas no segmento de nutrição animal existem as seguintes principais:

  • HACCP: Basicamente, essa certificação abrange a Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle, ou seja, gerencia a questão sanitária e segurança alimentar.
  • ISO 9001: Quando a empresa adquire essa certificação, a fábrica assegura que seus produtos atendem os critérios de qualidade, requisitos legais e regulatórios que garantem a segurança e credibilidade do processo de produção.
  • BPF: A certificação de Boas Práticas de Fabricação garante a conformidade e qualidade sanitária de produtos alimentícios. Qualquer empresa que produz alimentos para animais deve atender a essas especificações.
  • IN 65: Instrução normativa nº 65/2006 expedida pelo MAPA (Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento). Ela estabelece os procedimentos para a fabricação de rações, suplementos e concentrados com medicamentos para animais de produção.
  • Racto Free: Essa lista foi elaborada pelo MAPA e é composta por fornecedores de produtos sem ractopamina, destinados a alimentação animal. Essa lista está no programa oficial de produção de suínos sem ractopamina, já que é um aditivo permitido e utilizado no Brasil, porém é proibido na União Europeia. Esse aditivo influencia diretamente na formação da carne magra e diminui a gordura total da carcaça.

Possuir todas as certificações é essencial para garantir sua credibilidade com os clientes que são abastecidos no final de todo esse processo. Essas certificações demonstram a preocupação do produtor em levar rações de qualidade para o mercado.

Assim, podemos concluir que a fabricação de rações é uma grande oportunidade de mercado e um grande investimento, abrindo portas para novos produtores, trazendo tecnologia e inovação na nutrição animal.

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Luciana de Toledo (@lutoledovet)

Luciana de Toledo Rodrigues é Médica Veterinária formada pela Universidade Anhembi Morumbi.

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