Criação de codornas: conheça mais sobre a coturnicultura

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Coturnicultura: você sabia que esse é o nome dado para a criação de codornas?! Seja para comercialização ou para subsistência, a coturnicultura é uma atividade dentro da avicultura onde nos últimos anos vem ganhando destaque no Brasil. Com isso, observando o cenário atual os criadores vêm buscando cada vez mais tecnificar a produção com o objetivo de competir no mercado a nível industrial. Sendo assim, a criação de codornas tem se tornado uma alternativa economicamente viável para o produtor que visa aumentar sua fonte de renda.

A codorna é uma ave pequena que além de apresentar excelentes resultados como poedeira, principalmente, também é capaz de produzir carne com ótimo valor agregado, de muita qualidade e com excelentes índices nutricionais, portanto, é possível obter um rápido retorno do investimento aplicado nesta atividade.

Os japoneses através de cruzamentos entre codornas europeias com os tipos selvagens criaram a codorna doméstica, chamada popularmente de codorna japonesa e recebeu o nome de Coturnix coturnix japonica que apresenta plumagem cinza e listras brancas e pretas. Foi a partir daí, em meados do século passado que se iniciou a criação.

Entretanto, a produção de codornas no Brasil começou por volta de 1950, onde imigrantes do Japão e Itália trouxeram algumas espécies para o país, primeiramente pelo interesse no canto da ave e para caça. Em 1963 veio a popularização do consumo de ovo de codorna, contudo, foi em 1989 que teve início a produção a nível industrial na região Sul do país com a construção do primeiro criatório e abatedouro nacional.

Segundo dados obtidos pelo IBGE, no ano de 2018 o plantel de codornas no país aumentou cerca de 3,90% com relação ao ano anterior, apresentando 16,8 milhões de cabeças. O sudeste do Brasil hoje apresenta o maior número de animais comparado a outras regiões do país. Todavia, segundo Silva et al., (2011) o Brasil ocupa o quinto lugar na produção de carne de codorna no cenário mundial.

Quer saber mais sobre a Coturnicultura? Nesse artigo o mercado rural abordará os aspectos mais importantes da criação para você que tem interesse em iniciar a atividade nesse mercado tão promissor.

História da criação de codorna no Brasil

O italiano Oscar Molena em 1959 trouxe para o Brasil cerca de 20 dúzias de ovos de codorna galados, com o objetivo de criar os animais em solos brasileiros exclusivamente para caça. Anos mais tarde, houve um interesse pela criação para obtenção dos ovos por parte de criatórios brasileiros, por conta da popularidade em que foi atribuída ao mesmo devido ao sucesso de uma canção chamada "ovo de codorna", onde o cantor Luiz Gonzaga fazia referência ao poder afrodisíaco atribuído ao consumo dos mesmos. Entretanto, esse foi só um mito criado em torno do consumo, mas que fez com que várias pessoas tivessem interesse na criação principalmente no estado de São Paulo, o que rapidamente levou a uma expansão da coturnicultura para todo o país.

Espécies de Codorna

Pertencentes à classe das aves e ordem dos Galináceos, as codornas são da família das Faisanidas e pertencem ao gênero Coturnix. As espécies mais comuns são:

Coturnix coturnix japonica

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Também conhecida como Codorna Japonesa, é originária do Sudeste da Ásia e do Japão. A sua pelagem predominante é a de coloração bege, tipo "carijó". Podem também apresentar coloração branca e mista. Essa raça é considerada de fácil manejo, dócil e resistente a doença e a condições climáticas. Todavia, é a principal raça de importância na produção de ovos, são capazes de botar cerca de 300 ovos por ano, sendo excelentes produtoras do mesmo.

Coturnix coturnix coturni

Conhecida popularmente como Codorna Europeia, são muito utilizadas na criação para finalidade de corte, apresentam uma carne muito nutritiva leve e que agrada o público além de serem animais muito precoces podendo atingir um peso de até 270g em 42 dias. A plumagem característica é observada em diferentes tons, entre bege, branca, marrom e mista. A mais comum é a "carijó".

Coturnix adansonii

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Também conhecida como Codorna Chinesa é originária do sudeste da Ásia e da Austrália e é considerada uma ave ornamental. Apresenta o hábito de comer insetos e sementes do chão do viveiro. A plumagem varia, normalmente o macho apresenta uma pluma azul escuro e a parte inferior do corpo um tom marrom avermelhado.

Colinus virginianus

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De origem americana, também é popularmente conhecida como "Bob White". Animal muito dócil o que possibilita um fácil manejo. Sua plumagem se caracteriza pela cor marrom do tipo "carijó" com listras brancas na cabeça. O macho apresenta uma faixa escura na cabeça e as fêmeas manchas de cor creme, marrom e ocre nas penas. Essa espécie pode ser utilizada tanto para corte quanto para produção de ovos, contudo, são muito utilizadas para ovos de conserva por apresentar um tamanho maior do que as das demais espécies de codorna.

Características zootécnicas das codornas

As codornas são aves que apresentam um rápido crescimento sendo capazes de triplicar o seu peso corporal ao nascimento, após apenas 7 dias de vida e encontram-se prontas para postura ou abate com cerca de 40 dias.

Todavia, são animais com alta resistência a doenças e se adaptam a climas frios ou quentes. São consideradas precoces sexualmente, atingindo a maturidade sexual entre 40 e 45 dias de vida e na produção de carne a vantagem é ainda maior, pois pode-se selecionar quais animais serão abatidos, que normalmente são as fêmeas aos 35 dias de vida. Isso viabiliza ainda mais a produção.

Quando submetidos a um bom manejo dentro da criação, uma única codorna Japonesa pode chegar a produzir 300 ovos por ano. Enquanto na produção de carne, as espécies podem apresentar um rendimento de até 75% de peso vivo.

Sistemas de criação

  • Sistema sobre camas - As codornas são criadas sobre camas de sabugo de milho, normalmente;
  • Sistema de Baterias (fase de crescimento e postura) - Nesse sistema, as gaiolas ficam dispostas uma sobre a outra com 15cm de espaço entre elas. Esse sistema é considerado o mais indicado pela viabilidade técnica e econômica e são feitos com material galvanizado. Recomenda-se que o esterco seja retirado 3 vezes por semana e que o galpão tenha 3 metros de pé direito e seja telado.
  • Sistema escada - São utilizadas gaiolas de arame e é o sistema maior utilizado a nível industrial, apresenta maior custo e as gaiolas ficam dispostas uma encima da outra, dando impressão de uma "escada".

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Exemplo de bateria com 3 gaiolas suspensas para codorna.

Local, estrutura e equipamentos necessários para criação de codornas

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Primeiramente para realizar a escolha do local para a criação de codornas, os seguintes aspectos devem ser considerados pelo produtor:

  • Facilidade de abastecimento com matérias primas para a granja;
  • Facilidade de acesso aos consumidores finais;
  • Não é favorável que a região tenha umidade relativa do ar muito alta;
  • Regiões que não sofrem o risco de alagamentos;
  • Locais que apresentem bom escoamento da produção;
  • Regiões com variações climáticas estáveis;
  • Boa ventilação, disponibilidade e qualidade da água;
  • Boa luminosidade, principalmente na criação para postura, onde o recomendado é 18 horas de luz entre natural e artificial;
  • O galpão deve ser construído na direção Leste-Oeste do terreno;
  • O local deve apresentar instalações elétricas e se possível afastado de cidades ou locais que criam outros animais.

A estrutura básica para iniciar uma criação comercial deve ser construída levando em consideração primeiramente as necessidades ambientais e fisiológicas das aves, buscando proporcionar conforto e qualidade de vida para que as espécies desenvolvam todo o seu potencial genético dentro da produção.

Os equipamentos e instalações necessárias vão depender do objetivo do produtor pelo tipo de criação que o mesmo tem interesse em iniciar a atividade. Contudo, a criação pode ser realizada em galpões de alvenaria. Por exemplo, um galpão de 16m2 com 3 metros de altura consegue alojar cerca de 2.000 codornas. Sendo assim, o tamanho do galpão será definido em função do número de aves que serão criadas. Os galpões devem apresentar nas laterais telas anti pássaros e invasores. É melhor que sejam construídos com telhas de barro pois o tipo de cobertura influencia diretamente na temperatura dentro do galpão, pois esse tipo se material confere um controle maior da temperatura, em contrapartida, existe também as telhas de amianto, de custo muito menor, todavia aumentam a temperatura dentro do galpão. Já o piso pode ser de cimento o que facilita a limpeza e deve apresentar um pequeno declive em construções para às aves de postura pois isso facilitará a coleta dos ovos.

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Coturnicultura de postura e de corte, exemplos.

A circulação do ar dentro dos galpões merece atenção especial na criação de codornas, tendo em vista que ela proporcionará a eliminação do excesso de gases, calor e umidade do ambiente. As codornas são sensíveis a diferenças de temperatura muito bruscas e também ao vento diretamente sobre as mesmas, então é recomendado que as granjas apresentem cortinas e que o manejo das mesmas seja realizo de forma correta. Também é importante que sejam instalados nos galpões algum tipo de ventilação, como exaustores, ventiladores ou sistemas de climatização o que ajuda na redução do teor de amônia no ambiente.

Os equipamentos básicos necessários para produção de codorna são:

  • Campânulas (fonte de aquecimento para pintinhos);
  • Bebedouros;
  • Comedouros;
  • Círculo de proteção de folhas de compensado (durante a fase de criação dos pintinhos).

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Considerações sobre as gaiolas

As gaiolas para postura podem ser de arame galvanizado no tamanho 100cm X 30cm com capacidade para alojar 30 codornas ou 100cm por 40cm, alojando 40 animais. Existem também as gaiolas de recria, onde são alojadas com 15 dias e saem com 35 dias e também as gaiolas para corte, que apresentam tamanho de 100cm X 40cm. Todavia, torna-se muito importante também oferecer disponibilidade de bebedouros e comedouros dentro dos galpões/gaiolas. Os bebedouros mais utilizados são os do tipo nipple.

Alimentação

A alimentação das codornas é feita de ração farelada, específica para criação das mesmas e elas também necessitam de altos teores de fibra no seu manejo alimentar, em qualquer fase da vida. Com 1 dia após o nascimento, o pintinho já pode receber a ração como alimento e nos primeiros 15 dias de vida da codorna, a ração deve apresentar cerca de 26% de proteína bruta. Contudo, Quando as fêmeas de postura atingem 25 dias, é recomendado que ela receba uma ração específica para essa finalidade, que possui um percentual menor de proteína bruta (23% de PB). No entanto, a partir dos 16 dias de vida até o abate a proteína bruta deve cair para 24% e ser fornecido 3.100kcal. A quantidade de ração oferecida varia de 30 a 35g, e deve ser feita diariamente. Todavia, a média do consumo diário de ração das codornas para reprodução pode chegar a 40g por dia.

Alguns cuidados com o armazenamento da ração devem ser priorizados dentro da criação, como:

  • A ração precisa ser armazenada de forma correta, em local livre de umidade e de roedores;
  • Deve apresentar protídeos, glucídios, lipídios, sais minerais e água e possuir vitaminas.

Portanto, um manejo nutricional adequado dentro da criação representa um dos fatores mais importantes para se obter bons índices de produção dentro de um plantel. Sendo assim, rações produzidas com ingredientes de alta qualidade são essenciais para um sucesso dentro da atividade e para os animais expressarem todo potencial genético que lhe foram atribuídos nos cruzamentos.

Reprodução

Na reprodução de codornas, recomenda-se que um macho seja utilizado para cada 2 a 3 fêmeas e deve-se evitar o cruzamento entre parentes próximos. O acasalamento das codornas pode ser observado durante o ano todo. O macho após submetido a 12h de contato com uma fêmea, passa a ficar em isolamento por um dia para posteriormente acasalar outra fêmea. Contudo, geralmente os ovos férteis são incubados de forma artificial, em temperatura que varia entre 10 a 16 graus e umidade de 75 a 80%.

No entanto, após eclosão dos ovos os pintinhos deverão receber aquecimento, ração e água a vontade. O piso deve ser forrado preferencialmente com papel nos 3 primeiros dias de vida e a ração ser oferecida sobre o papel nesse mesmo período.

Principais cuidados e prevenção de doenças na coturnicultura

O manejo das codornas precisa ser realizado continuamente e de maneira correta para garantir o sucesso dentro da criação. Sendo assim, sabe-se que as codornas são animais mais exigentes do que as galinhas com relação a interferências externas, como: barulho, luminosidade alta (preferem o escuro), e mudanças de temperatura. Se atentar em oferecer o bem-estar dentro da criação faz toda a diferença no resultado final, seja na coturnicultura de corte ou de postura, então torna-se necessário manter os animais livre de estresse durante a lida.

Para se prevenir doenças dentro dos galpões, medidas sanitárias precisam ser adotadas pelo produtor e serem seguidas rotineiramente. As principais medidas são:

  • Limpeza e higiene do ambiente;
  • Limpeza de bebedouros e comedouros regularmente assim como sua manutenção;
  • Retirada de fezes das bandejas coletoras para evitar o acúmulo e surgimento de vetores (moscas, ratos, animais invasores);
  • Higienização das gaiolas sempre que um lote for retirado;
  • Usar roupas e calçados limpos na lida com os animais;
  • Destinar as aves mortas a fossa séptica ou compostagem;
  • Monitorar a saúde do plantel através de exames laboratoriais;
  • Realizar vazio sanitário por 15 dias após retirada dos animais;
  • Adquirir animais vacinados e oriundos de incubatórios de confiança;
  • Não entrar no galpão de codornas saudáveis logo após sair de um galpão com animais suspeitos por alguma doença;
  • Usar pedilúvio ao entrar na granja.

Na coturnicultura deve-se realizar a vacinação dos animais, que precisam ser imunizados contra a Doença de Newcastle e Coriza Aviária pois ambas as doenças se disseminam rapidamente dentro da produção, o que leva a grandes prejuízos econômicas ao produtor pois apresentam elevada taxa de mortalidade. Sendo assim, buscar ajuda de um médico veterinário nesses casos é essencial, tanto para identificar e notificar a doença aos órgãos de defesa sanitária, quanto para realizar a imunização adequada das codornas, de forma segura e eficaz. Todavia, a vermifugação também deve ser realizada e normalmente é feita aos 30 dias de idade.

Principais vantagens na criação de codornas

  • São animais de crescimento acelerado, podendo atingir o dobro do seu peso inicial em poucos dias;
  • Atividade que apresenta rápida reversão de capital investido;
  • Custo baixo com mão de obra e investimento inicial relativamente pequeno quando comparada a outras atividades de produção animal;
  • Apresentam precocidade sexual;
  • As codornas apresentam um baixo consumo alimentar;
  • Alta postura;
  • São animais rústicos e resistentes a doenças.

Curiosidades

  • A criação de codornas no Espírito Santo triplicou nos últimos 10 anos, tornando-se o segundo maior estado brasileiro produtor, ficando atrás apenas de São Paulo;
  • Geralmente os locais de maior produção de codornas também são responsáveis pela produção de ovos de galinhas;
  • O ovo de codorna representa 1/5 de tamanho comparado ao ovo de uma galinha;
  • A carne da codorna é fonte de aminoácidos, vitaminas, minerais e ácidos graxos;
  • Os maiores produtores mundiais de carne de codorna são a China, Espanha e França;
  • Durante a guerra contra os EUA, a codorna se tornou a principal fonte de alimento para os Vietnamitas naquela época;
  • As fêmeas da codorna Japonesa são maiores que os machos;
  • No início da maturidade sexual, os machos cantam para atrair a fêmea para cópula.

Referências:

IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

SILVA, J.H.V.; FILHO, J.J.; COSTA, F.G.P. et al. Exigências nutricionais de codornas. In: XXI Congresso Brasileiro de Zootecnia - Zootec 2011, Maceió: Anais… Maceió - AL, 2011.

Criação de codornas para corte / José Gonçalves do Nascimento; Adriana Rodrigues Zica; Aécio Wanderley Silveira Prado; Pedro Ivo Braga Passos. - Brasília, DF: Emater-DF, 2021. 56p.; il. - (Coleção Emater-DF ; n. 29).

PINTO, R.; FERREIRA, A.S.; ALBINO, L.F.T. et al. Níveis de proteína e energia para codornas japonesas em postura. Revista Brasileira de Zootecnia, V.31, n.4, p.1761-1770, 2002.

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Luisa Duarte Rabello

Médica Veterinária formada pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. CRMV/RJ 17985.

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