Controle Biológico
O que é controle biológico
Quando falamos de agricultura e seus manejos para produtividade, rapidamente o tema controle de pragas e doenças vem à mente, e junto, o questionamento do intenso uso de pesticidas e agrotóxicos.
Mas qual seria uma alternativa para que as produções não sejam perdidas pelo ataque de pragas e doenças? Uma possibilidade que cresce em termos de uso e aumento de portfólio, pesquisa e registro, são os produtos chamados de controle biológico.
O controle biológico consiste na potencialização do uso de organismos ou substâncias que ocorrem na natureza, chamados inimigos naturais, ele consiste no uso de insetos benéficos, parasitoides, predadores e microrganismos, como bactérias, fungos e vírus que são usados para prevenir, reduzir ou controlar as populações das infestações de pragas e doenças agrícolas, reduzindo os prejuízos causados por elas.
Como funciona o controle biológico
O controle biológico é caracterizado por relações ecológicas envolvendo a competição do homem com as pragas por recursos para sua existência (tais como plantas cultivadas e produção agrícola) e a presença do agente de controle biológico como aliado do homem e inimigo natural da praga.
O controle biológico ocorre naturalmente em qualquer ecossistema sem a necessidade da ação humana. Mas, na agricultura, o homem pode interferir, manipular e facilitar a ação do agente de controle biológico para controlar pragas e doenças, assim, garantindo o benefício de sua produção e a manutenção da produtividade.
Como e onde surgiu
O Controle Biológico surgiu como termo pela primeira vez em 1919 por H.S. Smith para exemplificar o uso de inimigos naturais no controle de insetos-praga em cultivos. Mais tarde, esse termo passou a ser utilizado para todas as formas de controles que não utilizavam produtos químicos, mas que envolvessem o uso de organismos vivos.
Importância do controle biológico
O uso do controle biológico é muito importante para o controle natural de pragas e doenças utilizando-se de outros organismos vivos. Todas as pragas e doenças têm um uma gama de inimigos naturais que as mantêm em equilíbrio no seu nível populacional natural. Mas quando as pragas são favorecidas e seus inimigos naturais são desfavorecidos, ocorre um desequilíbrio de ciclos biológicos, o que na maioria das vezes acarreta em um aumento populacional da praga. Somado ao uso de indiscriminado de inseticidas, torna-se um dos principais fatores deste desequilíbrio.
Vantagens e desvantagens do controle biológico
Como em qualquer manejo utilizado na agricultura, o controle biológico tem suas vantagens e desvantagens.
Mas quando bem planejados, o uso do controle biológico leva a muitas vantagens em relação ao uso de agentes químicos, uma vez que não polui o ambiente e não causa desequilíbrios ecológicos.
Vantagens do controle biológico
Podemos listar como principais e mais evidentes vantagens do uso do controle biológico e seus benefícios, quando comparado ao manejo químico de pragas e doenças alguns itens, tais como:
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Diminuição da exposição dos aplicadores e produtores aos produtos químicos, razão maior de casos de contaminação;
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Menor do risco de poluição ambiental;
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Não afeta a qualidade da biota do solo , uma das áreas de estudo importantes de fertilidade e restauro de solo;
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Diminui o importante problema de resistência de pragas;
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Diminui o risco de contaminação alimentar por pesticidas
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Fortalece o uso da crescente agricultura orgânica de alto rendimento e produtividade.
Desvantagens do controle biológico
Como em qualquer manejo, o controle biológico requer planejamento e gerenciamento intensivos. Cuidados na hora de aplicação, armazenamento, entre outros, pois se trata de organismos vivos.
Pode demandar:
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Mais tempo, para que se atinjam os resultados desejados;
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Mais controle em todos os processos de aplicação e suas especificações para cada grupo e produto de controle biológico (deixemos aqui registrado, que estes cuidados deveriam ser levados também para os químicos)
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Mais paciência para que os ajustes de controle aconteçam, e se estabeleçam os ciclos do inimigo natural com seus alvos;
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Treinamento e orientações bem realizadas, muitas vezes “quebrando” vícios ou manejos dos aplicadores que estão acostumados com aplicação de químicos;
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O uso do controle biológico requer um grande entendimento da biologia da praga e a de seus inimigos para que seus resultados sejam bem-sucedido.
Controle biológico no Brasil
Muitos programas marcaram a trajetória do controle biológico no Brasil. Robbs (1992) relata a introdução de Prospaltella berlesei (Howard) (Hymn., Aphelinidae) para o controle da cochonilha-branca da amoreira e do pessegueiro Pseudaulacaspis pentagona (Targ.-Tozz) no estado de São Paulo, afirmando que o programa teve ótimos resultados. Outras introduções foram acontecendo na sequência (Robbs, 1992; Parra, 2014), porém, talvez por causa da característica dessas introduções, comum aos programas de controle biológico à época, conforme relata Van den Bosh et al. (1982), os resultados de muitos desses programas não foram publicados, mas este cenário hoje em dia já foi superado.
Hoje existem mais de 100 marcas comerciais de produtos contendo agentes de controle biológico de fitopatógenos disponíveis aos agricultores.
Regulamentação
É por meio da Lei número 7.802, de 11 de julho de 1989 - Agrotóxicos e afins, que os produtos de controle biológico são regulamentados.
No Brasil, o MAPA, a Anvisa e o Ibama são os órgãos federais que são responsáveis pela avaliação e registro de agrotóxicos e afins.
Todas os pedidos de registro precisam ser submetidos a cada um desses 3 órgãos.
Os produtos devem ser registrados também nos estabelecimentos que produzem, comercializam, exportam ou importam.
As diversas avaliações dos agentes biológicos de controle são realizadas de modo diferente dos demais produtos inseridos nesta lei.
Quais os tipos de controle biológico
O controle biológico de doenças e pragas pode ser dividido em quatro tipos:
Artificial ou indutivo:
É o controle que possui interferência do homem no qual é administrado uma grande população de inimigos naturais para controle rápido de pragas.
Natural:
O controle natural é feito realmente de forma natural no qual as populações de inimigos naturais não são aplicadas para o combate da praga, mas sim, já existem no ecossistema natural no local natural, ocasionando em um equilíbrio na natureza.
Clássico:
Esse tipo de controle consiste na aplicação de um inimigo natural (predadores ou parasitoides), que na maioria dos casos é importado de outro país. São aplicados de maneira pontual para controlar as pragas. O processo é de longo prazo. Nesse tipo de controle há o risco de introduzir organismos indesejáveis, junto aos organismos benéficos.
Aplicado:
O controle aplicado é similar a um controle com agrotóxicos, onde é utilizado de forma pontual visando o controle da praga de forma mais imediata, uma vez que que possui uma ação mais rápida em comparação aos outros controles biológicos. Esse tipo de controle necessita de um uso pontual e nas áreas específicas de pragas. Caso haja necessidade de maior precisão, é fundamental a utilização das novas tecnologias.
Crescimento do controle biológico
O impacto do crescimento populacional e a necessidade de produção de alimentos obviamente, como qualquer atividade humana, gera impactos no meio ambiente e a necessidade cada vez mais evidente de se mitigar estes impactos, levaram a uma conscientização da sociedade que cada vez mais, busca por alternativas que causem menor impacto ambiental.
Com a alta demanda e grande pressão do consumidor por alimentos livres de resíduos químicos e da necessidade de o produtor realizar um manejo para diminuir a resistência no campo, a expectativa para 2025 é de que o uso do controle biológico movimente por volta 8 bilhões de dólares.
Atualmente a União Europeia e os Estados Unidos são as regiões que mais empregam produtos biológicos para o controle de pragas e doenças.
Na América Latina, o Brasil é líder no uso do manejo com biodefensivos e em 2020, apresentando um crescimento superior à média global (30% versus 14,4%).
No Brasil, em 2013, quando bioinseticidas mostraram eficiência no controle da Helicoverpa armigera, praga que estava destruindo lavouras brasileiras de soja, levou a um olhar da importância deste tipo de manejo, tornando-se um “marco” importante de convencimento que o controle biológico vinha para ficar.
A partir daí, investimentos em pesquisa e desenvolvimento de produtos biológicos foram intensificados, resultando em maior inovação tecnológica e lançamentos de novos biodefensivos, já que ter portfólio amplo pra atender às demandas foi e é necessário para o ganho de Market share, atendendo as necessidades dos produtores.
Os produtores de hortifrútis (HF) adotam os biodefensivos (controle biológico) há mais tempo, o que faz com que o crescimento anual do uso nas lavouras de HF não seja tão expressivo, como o observado nas culturas de soja, cana e milho.
Porém, segundo dados da Consultoria Blink (2021), o controle biológico já é utilizado em 50% da área plantada com banana e mamão no Brasil. O grande aumento na comercialização de biodefensivos tem acontecido e intensificado pela maior adoção dessas tecnologias por parte dos produtores de grandes culturas, como soja, milho, cana de açúcar, algodão e café.
Espera-se o crescimento de adoção de controle biológico para os próximos anos nessas culturas, com o aumento do entendimento por parte dos produtores da eficiência, importância e cobertura das demandas com o aumento do portfólio de produtos, atendendo assim as necessidades de controle de pragas e doenças.
Grandes players aumentaram seu interesse em oferecer soluções, plantas de biofábricas e canais de distribuição para o manejo e utilização de controle com biodefensivos, com isso o portfólio de biodefensivos conta com 433 produtos autorizados para uso no Brasil, com parando com em 2013 eram apenas 107.
A indústria de biodefensivos faturou de mais de 1 179 bilhões de reais. Um aumento de 75% em relação a 2019. Os bionematicidas lideram entre os ativos que impulsionam esse valor de produtos biológicos comercializados no país, mesmo representando apenas 14% dos biodefensivos registrados, seguido pelos bioinseticidas e biofungicidas.
Referências
Lei número 7.802, de 11 de julho de 1989 - Agrotóxicos e afins
Henrique Servolo
Engenheiro Agrônomo, Mestre em Fitotecnia e Doutor em Engenharia florestal, todos pela Esalq/USP.
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