Acidose Ruminal e Alcalose Ruminal: o que são e como tratar

Imagem de bovinos se alimentando

Implementar um manejo nutricional adequado na bovinocultura é um fator crucial para o sucesso de toda criação, dentro de qualquer sistema. Essa prática pode prevenir o surgimento de doenças metabólicas importantes que podem acometer os ruminantes dentro dos sistemas de produção.

Normalmente, a nutrição dos bovinos é baseada no consumo de alimentos volumosos, como pastagens. No entanto, devido às restrições sazonais de pastagem em períodos de seca e à necessidade de aumentar a produção, foi necessário incorporar alimentos concentrados na dieta dos ruminantes ao longo do tempo, como grãos ou silagem de milho com alto teor de amido, por exemplo. Esses alimentos são fornecidos para atender à demanda calórica necessária para o balanço energético diário dos bovinos e, consequentemente, aumentar os índices de produtividade.

No entanto, o excesso de fornecimento de alimentos concentrados pode causar graves distúrbios metabólicos nos animais.

A acidose metabólica é um desses distúrbios, pois é uma doença que altera toda a microbiota presente no rúmen e modifica o padrão normal de fermentação. A doença se encontra na forma aguda mas também podem ocorrer casos crônicos.

O acúmulo de ácido lático no rúmen pode acontecer devido ao fornecimento excessivo de carboidratos na dieta do animal sem adaptação prévia, tornando-se tóxico. Isso interfere na microbiota ruminal e no pH do mesmo.

No entanto, o fornecimento excessivo de proteína e ureia na dieta dos bovinos ou a presença de obstruções no abomaso e intestino, entre outras situações, podem provocar uma alcalose metabólica no animal, caracterizada pela elevação do pH do rúmen que provoca um distúrbio ácido-base, quadro clínico bastante reservado para a saúde do boi, que em alguns casos, podendo ser observada a morte do animal.

Contudo, buscar ajuda de um profissional capacitado para formulação de dietas específicas afim de proporcionar a manutenção da fisiologia ruminal, buscando-se equilibrar o oferecimento de alimentos concentrados e fibrosos na dieta do rebanho, torna-se essencial para desenvolver uma produção com animais saudáveis e sem prejuízos econômicos para o produtor. Ou seja, pensar em prevenção é o melhor caminho para evitar doenças no gado, principalmente as doenças de origem metabólica que podem ser prevenidas com boas práticas de um manejo alimentar correto.

A Acidose é uma doença que acomete os bovinos devido ao excesso da ingestão de carboidratos de alta fermentação, como: alimentos ricos em amido, representados pelos cereais, trigo, milho, aveia, os açúcares em geral e os alimentos que apresentam ácido lático, como as silagens.

Tanto bovinos de corte quanto de leite podem ser acometidos pela doença, sendo muito comum em criações intensivas.

Acidose Metabólica e Ruminal: O que é,principais causas, sinais clínicos, diagnóstico, prevenção/controle e tratamento.

Em situações onde ocorre o aumento exacerbado dos carboidratos oferecidos aos animais ou à troca brusca na ração de baixo valor energético para concentrados de altos valores sem inserir nenhum tipo de fibra na alimentação em conjunto, se torna possível observar um acúmulo de ácido láctico no rúmen.

Em consequência, os ácidos graxos voláteis aumentam e o pH do rúmen entra em declínio de forma imediata após a ingestão dos carboidratos, que apresentam uma característica de rápida fermentação.

Com isso, ocorre a morte de bactérias e protozoários que vivem no rúmen e que são benéficas no processo de digestão, abrindo espaço para que ocorra ainda mais produção de ácido láctico por meio da proliferação de outras bactérias, reduzindo ainda mais o pH. A acidose pode acometer bovinos de qualquer faixa etária.

No entanto, há vários relatos na literatura de que os surtos de acidose ruminal podem ocorrer nas seguintes situações:

  • Em animais a campo suplementados quando há escassez de forragem;
  • Novilhos e vacas adquiridas para engorda no confinamento sem que ocorra adaptação anterior com esse tipo de manejo alimentar;
  • Animais que tem acesso a grandes quantidades de concentrado de uma vez só.

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Todavia, tem ocorrido um aumento do número de surtos de acidose nos últimos tempos, principalmente no inverno, quando ocorre escassez de forragem e são comumente oferecidos os carboidratos para os bovinos confinados isso ocorre principalmente no primeiro ano, quando os animais que antes eram criados à pasto passam a serem confinados e sem nenhuma adaptação anterior, sealimentam de rações de farelo de arroz, soja, milho ou silagens.

Sinais clínicos da Acidose Metabólica

Na fase aguda da doença quando o animal tem o primeiro contato com rações concentradas que não estão inseridas normalmente na sua dieta, podem presentar quadros clínicos de anorexia, estase ruminal, queda de produção e fezes pastosas de cor cinza ou amarelo. Nesta fase, quando suspenso a oferta do alimento de forma imediata após observação dos sinais clínicos e os animais logo em seguida forem colocados em pastagens para o consumo de alimento fibroso, pode-se observar a recuperação do quadro clínico em 3 a 4 dias, devido a diminuição dos carboidratos, aumenta-se a fermentação da celulose, hemicelulose, pectina, entre outros. Contudo, quadros clínicos graves podem ocorrem em casos de intoxicações maiores pelo consumo exacerbado de animais que inclusive, já tenham a alimentação concentrada inserida na sua dieta. Nessa situação, os ruminantes podem apresentar sinais clínicos como:

  • Mucosas pálidas;
  • Hipertermia e respiração rápida e superficial;
  • Conteúdo ruminal líquido ou pastoso;
  • Desidratação moderada a intensa, pois o fluxo de água do organismo do animal vai todo para o rúmen em casos de acidose pela redução do pH;
  • Diarréia profusa;
  • Andar cambaleante, decúbito, coma e morte do animal e casos graves, de 12h a 48h após início dos sinais.

Sabe-se que a forma crônica da acidose ocorre geralmente, em vacas leiteiras pelo consumo excessivo de matéria seca e a produção de ácidos graxos voláteis dentro do rúmen. O desempenho dos animais com a forma crônica torna-se comprometido e quedas nas produções são observadas, levando a prejuízos econômicos ao produtor. Algumas pesquisas apontam que a raça do bovino pode influenciar na ocorrência de acidose, sendo os zebuínos mais suscetíveis, pois eles em seu processo evolutivo tiveram uma dieta base de gramíneas e nenhumaadaptação nutricional com concentrados.

Diagnóstico

O diagnóstico da acidose metabólica é realizado por um médico veterinário capacitado ao avaliar o animal através dos sinais clínicos, alterações no líquido ruminal por observações microscópicas, pelo pH do conteúdo ruminal retirando o líquido do rúmen através de uma sonda e pela atividade dos protozoários em avaliações microscópicas.

Prevenção e controle da Acidose

Se a principal causa da acidose metabólica está relacionada ao excesso de concentrado sendo fornecidos na dieta dos animais do rebanho sem uma adaptação prévia, a principal estratégia de prevenção para que se evite o acometimento dos ruminantes pela doença é não inserir na dieta a alimentação com grãos ou subprodutos em quantidade diária maior do que 0,3% do peso corporal do animal, durante 2 a 4 dias, até se adaptarem ao alimento concentrado. Contudo, pode-se aumentar a quantidade de forma gradativa até 1% dentro de 21 dias. Esse tipo de manejo permite que a flora microbiana ruminal não seja alterada e nem proporciona fermentações elevadas de ácidos graxos dentro do rúmen.

Quando deseja-se reduzir a incidência de acidose no rebanho e proporcionar uma eficiência alimentar, normalmente utiliza-se de aditivos alimentares na dieta. No entanto, a adição de bicarbonato de sódio na matéria seca também ajuda, por seu efeito tamponante e pelo aumento de Na+ no rúmen.

Tratamento

O tratamento pode ser feito através da suspensão do alimento concentrado na dieta imediatamente após a ocorrência do primeiro sinal clínico observado nos casos agudos. Todavia, a retirada do conteúdo ruminal deve ser realizada (por uso de sonda ou laparotomia) e introduzir e retirar água do rúmen por várias vezes até esvaziá-lo e administrar após, de 5 a 20 litros de líquido ruminal, retirado dos bovinos saudáveis. Essa é uma conduta que deve ser realizada somente pelo Médico Veterinário ao observar sinais característicos da doença. O tratamento deve seguir com a administração endovenosa da solução bicarbonato de sódio, contudo, em quadros menos graves não é necessário. Normalmente, administra-se soluções via oral e antibióticos a depender do grau de comprometimento do animal.

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Alcalose Metabólica: O que é, causas, sinais clínicos, diagnóstico e tratamento

A alcalose metabólica se caracteriza por uma disfunção digestiva causada por um desequilíbrio na dieta que levará ao aumento do pH e nas concentrações de amônio (NH3) dentro do rúmen, levando a queda dos protozoários que ali colonizam devido ao excesso de bases e bicarbonato, provocando um desequilíbrio ácido-base relevante para a saúde do ruminante. Por conta disso, torna-se possível também observar uma alcalose sistêmica com a diminuição de cálcio no sangue e respostas compensatórias do próprio organismo do animal, apresentando uma menor ventilação pulmonar. Contudo, essa taxa de ventilação diminui devido a percepção do pH elevado através de quimiorreceptores presentes no sistema respiratório, com isso aumentando a pressão parcial de CO2 no sangue arterial.

Dentre as principais causas da Alcalose conhecidas na literatura, podemos citar:

  • Nutrição oferecida com conteúdo exagerado de substâncias nitrogenadas como proteína e ureia;
  • Baixo aporte de glicídios em conjunto com dieta rica em proteínas e ureia;
  • Fornecimento de alto conteúdo na dieta que contém nitrato e nitrito;
  • Aplicação exacerbada de bicarbonato de sódio e óxido de magnésio;
  • Ingestão de alimentos com terra;
  • Intoxicação por ureia;
  • Hipocalemia;
  • Vomito intenso;
  • Obstruções funcionais ou mecânica do abomaso e intestino delgado;
  • Fornecimento de silagem mofada;
  • Alterações neurológicas, respiratórias, urinárias e circulatórias também podem levar a quadros de alcalose.

Sinais clínicos da Alcalose

As elevações do pH no sangue que são observadas nos casos de alcalose metabólica podem causar arritmias, fraqueza, Apatia, perda de consciência, queda da oxigenação dos tecidos, tetania secundária a hipocalcemia, alta produção de amônia pelo sistema renal e depressão da atividade respiratória.

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Diagnóstico

O histórico do animal, sinais clínicos e a realização de exames complementares são os principais aspectos a se considerar para fechar um diagnóstico de alcalose metabólica em ruminantes. O exame de hemogasometria pode ser feito através de amostras de sangue venoso ou arterial. Existem também no mercado, aparelhos portáteis para realização da hemogasometria que se tornam ótimos aliados do profissional que trabalha no campo. Exames que aferem o pH ruminal também são uma importante ferramenta para o diagnóstico de Alcalose.

Tratamento

O tratamento deve ser realizado por um médico veterinário capacitado que irá avaliar as condições do animal e instaurar um tratamento adequado para a correção do desequilíbrio ácido-base observado na alcalose metabólica. O tratamento normalmente ocorre através do uso de soluções acidificantes, por via intravenosa ou oral.

Portanto, o tratamento endovenoso consiste na utilização de fluidoterapia realizada com solução alcalina ou hipertônica e ringer para infusões. Esse tratamento ajudará a diminuir o pH e reduzir as chances de piora no quadro clínico apresentado pelo animal. No caso de escolha da fluidoterapia pela via oral, as soluções precisam apresentar sais de cloro, cloreto de potássio e cloreto de cálcio. Contudo, somente um médico veterinário saberá avaliar qual a melhor via de administração e todos os aspectos referente ao tipo de tratamento após avaliação clínica minuciosa do animal que apresentar os sinais clínicos.

Referências:

Doenças de Ruminantes e equinos/Franklin Riet-Correa, Ana Lucia Schild, Maria del Carmen Méndez, Ricardo A. A Lemos [et al]. - São Paulo: Livraria. Varela, 2001. Vol.II, 574 p.

Neto et al., Revista Brasileira de Higiene e Sanidade Animal (v.8, n.4) p. 157-186, out-dez (2014).

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Luisa Duarte Rabello

Médica Veterinária formada pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. CRMV/RJ 17985.

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